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TENDÊNCIAS/DEBATES
Verdades, ganhos e eleições
ALESSANDRO TEIXEIRA
Devemos lembrar que os excelentes resultados do comércio exterior são conseqüência de uma ação agressiva do governo Lula
EM ARTIGO publicado nesta Folha de S.Paulo no dia 11/10, o
ilustre presidente do PFL e excelentíssimo senador Jorge Bornhausen mencionou que o bom desempenho do comércio exterior brasileiro é conseqüência do boom de
comércio internacional. Entretanto,
devemos lembrar que os excelentes
resultados do comércio exterior são
conseqüência de uma ação agressiva
do governo Lula, circunstanciada pela política industrial, tecnológica e de
comércio exterior.
Mais do que simplesmente aproveitar os "bons ventos da economia
mundial", o Brasil fez mais no comércio exterior, e suas exportações cresceram muito acima da média mundial, ao contrário do que alega o iminente demiurgo senador.
Alguns números de comércio são
ilustrativos do desempenho histórico
do comércio exterior brasileiro vis-à-vis o comércio mundial.
Em primeiro lugar, a participação
brasileira nas exportações mundiais
aumentou 17,17% entre 2003 e 2005.
Deve-se destacar também que o crescimento das exportações brasileiras
está num ritmo de crescimento superior ao da média mundial.
De fato, em 2005, por exemplo, enquanto as exportações mundiais
cresceram apenas 13,9%, o Brasil
apresentou crescimento de 22,6%.
Ademais, enquanto a média de crescimento das exportações brasileiras
no período do governo Lula foi 7,8
pontos percentuais acima do crescimento das exportações mundiais, no
governo FHC, o crescimento das exportações brasileiras foi 1 ponto percentual abaixo do crescimento das
exportações mundiais.
Em segundo lugar, além do forte
ritmo de crescimento promovido pelo governo Lula, destaca-se a diversificação de destinos das exportações.
Mercados historicamente inexplorados pelo Brasil vêm sendo desbravados no governo Lula, comprovando
que a política exterior tem também
resultados concretos nos negócios.
Para ilustrar o ponto: as exportações para a África cresceram 40,8%
somente em 2005; para a Europa
Oriental, as exportações tiveram um
aumento de 55,2% em 2005; já as exportações para América Latina aumentaram 29,1%.
A diversificação dos destinos das
exportações é uma estratégia correta
que vem sendo adotada pelo governo
Lula, pois vem resultando em uma
ampliação das possibilidades para o
setor privado brasileiro, bem como
em uma redução do foco em apenas
dois grandes parceiros comerciais.
Finalmente, é importante destacar
que o crescimento das exportações
brasileiras não está baseado apenas
no forte crescimento da demanda de
commodities minerais e agrícolas, na
qual o Brasil é importante "player".
No ano de 2005, os produtos de
maior conteúdo tecnológico tiveram
uma participação destacada na pauta
de exportações brasileiras, com
40,1%.
Ademais, é evidente o significativo
crescimento de produtos de média-alta e alta intensidade tecnológica:
em 2005, as exportações desses produtos cresceram 30,3%, aumento superior ao verificado para o crescimento geral das exportações brasileiras, que foi de 22,6%. Esse crescimento tem auxiliado o Brasil a crescer de forma sustentável.
A comparação que o eminente senador fez com a Argentina é equivocada e carece de uma análise mais
cuidadosa, tendo em vista as diferenças das economias, bem como das estruturas produtivas de ambos os países. Nessa linha, observe-se que a
economia argentina ainda está passando por um processo de recuperação da crise.
A taxa de crescimento
observada é reflexo de uma base de
comparação deprimida, tendo em
vista que, nos anos de 2001 e 2002, o
país sofreu reduções de 4,41% e de
10,89%, respectivamente, no seu PIB.
O período pré-eleitoral, de fato, é
marcado por tentativas de desconstruir os argumentos dos adversários.
Isso, contudo, deve ser feito de maneira correta, com bons números e
argumentos para que o eleitor faça
suas próprias escolhas. Utilizar informações incorretas, manipular dados
e deles extrair conclusões levianas
não contribui em nada para o debate
construtivo que se deve esperar de
nomes ilustres da política brasileira.
ALESSANDRO TEIXEIRA, 34, mestre em economia da
América Latina pela USP e doutor em competitividade
tecnológica e industrial pela Universidade de Sussex (Inglaterra), é presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
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