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Arsenal de guerra
Governo do Rio rompe linha de acomodação ao crime, mas ainda deve vitórias duradouras sobre as gangues do tráfico
IMAGENS fortes como a do helicóptero derrubado no Rio,
levando à morte três policiais, produzem a impressão
de que a insegurança da população carioca estaria aumentando,
e os traficantes, vencendo a disputa pelos morros. Na realidade,
esse tipo de confronto também
pode prenunciar o oposto: reconquista de territórios cedidos
ao crime por décadas de política
de acomodação irresponsável.
As 21 mortes contabilizadas
até a tarde de ontem são baixas
revoltantes de uma guerra suja,
que não poupa inocentes forçados a morar na linha de tiro entre
policiais e facínoras, e entre gangues rivais. O episódio causa ainda mais consternação por ter
ocorrido apenas 15 dias depois
de a cidade ser escolhida a sede
dos Jogos Olímpicos de 2016.
A estratégia comandada pelo
governador Sérgio Cabral
(PMDB) e seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, decerto expõe as autoridades a constante desgaste -pois
as ocasiões para reveses, como o
de sábado, se multiplicam. Não
se pode negar-lhes, porém, o mérito de tomar a iniciativa do combate, antes quase monopólio dos
bandidos. Muito da ação policial
ainda é reativa, como apontou na
Folha a antropóloga Alba Zaluar, mas o abandono da população feita refém foi rompido.
Embora fracassada, a ação policial do fim de semana teria sido
fruto de atividade investigativa:
a informação sobre a tentativa
de invasão do morro dos Macacos por criminosos do São João
teria sido obtida pela polícia.
Falta à força pública demonstrar-se capaz de converter o necessário esforço de investigação
em ações preventivas eficazes e
menos letais. A polícia mata
mais de mil pessoas por ano no
Estado do Rio, contra cerca de
400 em São Paulo.
Está correta a iniciativa de
manter a presença do Estado
nos territórios conflagrados com
"unidades policiais pacificadoras" (UPPs) -o policiamento comunitário, recomendado há
anos por especialistas. Apenas
cinco comunidades contam com
UPPs; outras cinco viriam até
dezembro. Nesse passo, só nas
vésperas da Copa de 2014 seriam
contemplados os 47 locais mapeados como prioritários.
Não basta a presença da polícia, no entanto, para pacificar essas áreas urbanas. Uma vitória
duradoura, que retire dos comandos criminosos o acesso rotineiro a um verdadeiro arsenal
de guerra, está por ser conquistada. O Estado, ademais, precisa
levar alternativas de renda e emprego aos morros, sobretudo para os jovens entre os quais o tráfico recruta seus soldados.
O governo do Rio investe
quantias significativas em equipamento e treinamento e está
entre os quatro Estados que destinam à segurança mais de 12%
do total de gastos anuais. Por outro lado, paga o segundo pior soldo do país para PMs novatos,
cerca de R$ 1.000 mensais.
Resta, obviamente, ainda muito por fazer para pacificar a cidade. A Copa e a Olimpíada dão ensejo a que se amplie a mobilização para assegurar aos moradores do Rio o direito de viver em
segurança.
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