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ELIANE CANTANHÊDE
O joio e o trigo
BRASÍLIA - Sarney se deu bem,
Renan está firme e forte, Jader faz o
caminho de volta, os comissionados
continuam numa boa, os terceirizados de lá não saem. Tudo estaria na
santa paz no Senado não fosse uma
curiosidade: quem parece à beira de
um ataque de nervos são justamente os concursados.
Alguns, até velhos amigos, enviam e-mails irados porque escrevi
sobre a "vaga sensação" de que alguns concursos são usados para "lavar" vagas de apadrinhados. Então,
vamos começar do começo.
Os terceirizados são necessários,
e deve haver mesmo uma cota de
assessores comissionados que conheçam a história, a agenda, o Estado do senador. Desde que não sirvam como porta de entrada para
tramoias nem que eles tenham
mais poder que os concursados.
Comissionados e terceirizados
vão, e os concursados ficam. A estes
deveriam caber as diretorias
(reais), os principais cargos (reais),
as melhores funções (reais), porque
saem da elite de universidades de
todo o país, passam por exames dificílimos, especializam-se em áreas
áridas como orçamento, finanças,
defesa, regimento, ambiente, energia e vai por aí afora.
Dito isso, acrescenta-se: eles devem ser os maiores interessados em
que não haja a mais vaga sensação
de que os mandachuvas são também capazes, entre tantas coisas, de
usar concursos para "lavar" vagas
de apadrinhados pré-escolhidos.
Essa sensação existe. E, quanto
mais provas e concursos, maiores
as chances de fraudes e irregularidades. A fiscalização, pois, tem de
aumentar na mesma proporção.
Um raciocínio tão elementar atiçou traumas às vezes irracionais e
criou carapuças imaginárias. Cobrar rigor e que se eliminem quaisquer suspeitas, por mais vagas que
sejam, não é condenar concursos e
concursados. É exatamente o oposto: defender os concursos e os reais
concursados. Quem nunca ouviu
falar em separar o joio do trigo?
elianec@uol.com.br
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