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Visão curta
É equivocada e prejudicial à indústria a ideia de que o governo brasileiro deve se aliar à China contra os EUA nas discussões sobre câmbio
Reportagem da Folha publicada ontem mostrou que setores do
governo endossam as posições
chinesas no debate sobre câmbio.
Ou seja, minimizam os efeitos da
artificial desvalorização da moeda
da China, que favorece as exportações daquele país, e atribuem a
culpa pelos problemas à política
monetária expansionista dos Estados Unidos, que empurra capitais para as nações emergentes e
valoriza suas divisas.
De fato, na recente reunião
anual do FMI, a delegação brasileira não mencionou a política
cambial chinesa, concentrando as
críticas nos países desenvolvidos.
A declaração oficial do ministro
da Fazenda, Guido Mantega, dizia
que todos os bancos centrais
emissores de moedas-reserva
(leia-se EUA, Inglaterra, Japão e,
em menor medida, a zona do Euro) estavam promovendo a desvalorização para estimular suas exportações e, ao mesmo tempo, forçar a valorização das moedas dos
emergentes. Terminava o ministro
afirmando que estes últimos continuariam a acumular reservas e a
construir diques de proteção, com
políticas de restrição à movimentação de capitais.
Avalia-se no governo que a economia brasileira teria mais a perder do que a ganhar com uma
eventual valorização da moeda
chinesa, pois isso poderia levar a
uma queda nos preços das commodities importadas por aquele
país e vendidas pelo Brasil.
Trata-se de uma posição equivocada. É fato que a política monetária dos países centrais é um
fator de instabilidade, mas é impossível não reconhecer que parte
importante dos desajustes globais
decorre do gigantesco superavit
externo chinês, cada vez mais prejudicial ao resto do mundo. Não
deve haver dúvida de que a recusa
da China em permitir um ajuste
cambial faz o peso da desvalorização do dólar onerar outros países,
inclusive o Brasil.
É claro que o governo brasileiro
deve buscar pontos de afinidade
com a China, que se tornou nosso
principal parceiro comercial. Mas
não pode fazê-lo de maneira ingênua ou ideológica.
A política da China tem por objetivo conquistar mercados de forma agressiva -e são evidentes os
problemas de competitividade
que já afligem a indústria brasileira, seja para exportar para mercados tradicionais, como a América
Latina, seja para manter sua participação no consumo interno.
Quanto às commodities, pode
se dar o contrário: a valorização
do yuan, ao aumentar o poder de
compra chinês, propiciaria uma
elevação das importações.
Parece faltar às autoridades
brasileiras uma estratégia para lidar com os novos desafios globais,
em particular a nova dinâmica de
concorrência econômica. O ex-ministro Rubens Ricupero, em recente coluna neste jornal, mostrou
com clareza que a entrada da China na América Latina pode tornar
anacrônica a própria política de
integração regional.
Os riscos para a indústria nacional são iminentes. É preciso saber
de onde vem a ameaça. Neste assunto, o interesse do Brasil coincide com o dos países desenvolvidos -e não com o dos chineses.
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