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CLÓVIS ROSSI
Bolcheviques
SÃO PAULO - O primitivismo do debate público tupiniquim fez ressuscitar uma palavra (bolcheviques) que
nem meu pai, que já morreu faz 36
anos, usava mais, por obsoleta.
Como o leitor inteligente terá dificuldade em ligar o nome à pessoa, informo que, para a direita raivosa,
bolcheviques são os petistas, com exceção, claro, de Antonio Palocci.
Antes fossem. Pelo menos teriam
um projeto de país. Bom ou mau, ganharam a eleição e teriam o direito
de implementá-lo, como ocorre nas
democracias.
O problema do PT está longe de ser
o de ter ocupado o aparelho de Estado para implantar o socialismo. Ocupou-o para dar vazão ao apetite pessoal, político e eleitoral de seus quadros. Ou, pior, para fazer negócios.
Exatamente como a direita o fez, desde as capitanias hereditárias.
O problema do PT não está em ser
diferente, pela esquerda. Está em ser
igual, pela direita.
Só o mais perfeito idiota acha hoje
que o governo do PT ameaça o capitalismo, ameaça a propriedade privada, ameaça o sistema financeiro.
Ao contrário. O governo do PT apenas reforçou o pior do capitalismo:
caixa dois, rentismo, parasitismo do
Estado, compadrio. Nem sequer mudaram todos os compadres. Vide Roberto Jefferson, que era compadre do
governo anterior e continuou compadre do governo atual, até o rompimento em típica briga de compadres
mafiosos.
O problema do PT não é o de ser
bolchevique. É o fato de nem sequer
ter sido capaz de ser menchevique, no
sentido de aplicar o "robin-hoodismo" social-democrata de tirar algo
dos que têm demais para dar à massa
que pouco ou nada tem.
O problema do PT não é o de ter feito a mudança prometida, ainda que
a mudança pudesse ter sido para
pior. O problema do PT foi ter conservado intacto o pior que havia e há na
pátria.
Podem, pois, os pais dormir em paz
que o PT não vai comer suas criancinhas. Nem delas cuidar.
@ - crossi@uol.com.br
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