|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOÃO SAYAD
Previdência:
1- O déficit
CONTABILIDADE é a arte das
caixinhas.Classifica as transações em caixinhas -investimento, despesa corrente etc. A
classificação depende dos interesses em jogo. Interesses são interesses. Exemplos:
a) Um contador que dormia com
a secretária elaborou um plano de
contas diabólico. Convenceu mulher e filhos a registrarem receitas
e despesas da família num grande
livro que ficava sobre a mesa da sala de jantar. A família unida em torno do ofício do pai. Depois, combinou dividir a família em três unidades de negócios: negócio-pai, negócio-mãe e negócio-filhos. A mãe
era do lar. Só tinha despesas (da casa) e não recebia nada por sua dedicação. O pai tinha receita (salário)
e poucas despesas (ônibus e cigarros). Os filhos, só despesas. Um ano
depois, a unidade filho foi alertada
do déficit. A unidade pai, elogiada
pelo superávit. A unidade mãe,
acusada de déficit.
b) Os filhos começaram a trabalhar para equilibrar o orçamento. A
mãe propôs calcular um preço (um
salário mais duas cestas básicas)
para remunerar seus serviços. O
pai, contador e poeta, argumentou
contra, dizendo que amor não tem
preço. A unidade pai, superavitária,
separou-se da unidade mãe, deficitária. Fugiu com a secretária e o superávit, sem ter que pagar pensão
alimentar.
c) Divida o INSS em duas caixinhas: o INSS privado, encarregado
de aposentadorias do setor privado. O INSS público, das aposentadorias dos funcionários públicos.
d) O INSS privado tem superávit
-arrecada mais em contribuições
do que gasta com aposentadorias.
O INSS público não tem receita,
pois o governo não contabiliza como obrigação as aposentadorias de
seus funcionários. O superávit do
privado financia o déficit do público. Poderíamos reduzir as contribuições -reduzindo o custo da
mão-de-obra- e financiar o déficit
do INSS público pelos demais impostos.
e) Diz-se que o INSS tem déficit e
precisa ser reformado porque há
interesse em usar o dinheiro devido ao funcionário público para investimentos ou juros.
f) A carga tributária inclui as
contribuições privadas do INSS.
Não são impostos. Sem a Previdência, a carga tributária cai de 38%
para 31% do PIB. Só então poderemos compará-la com a de outros
países.
g) O combate à inflação foi terceirizado para o Banco Central. O
contrato de terceirização estipula
que deve combater a inflação, mas
o custo é por conta do governo. Fixa juros e manda a conta para o Tesouro, sem consulta prévia. Não
tem receita. Logo, tem déficit -6%
do PIB. O déficit do INSS é de 1,1%.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Sergio Costa: Na terra do nunca Próximo Texto: Frases
Índice
|