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SERGIO COSTA
Na terra do nunca
RIO DE JANEIRO - No país que
teima em não crescer, impressiona
a velocidade com que se desenvolvem meios para explorar cidadãos
de boa-fé e a miséria alheia. Nos
chamados grotões do Nordeste,
uma novidade está mudando radical e perigosamente o comportamento dos filhos de trabalhadores
rurais e de desempregados: a proliferação de lan houses sem qualquer
tipo de fiscalização.
Nessas casas de jogos eletrônicos
e acesso à internet, dá-se uma espécie de inclusão digital às avessas e
sem orientação. Em troca de moedas, deixam que crianças e adolescentes viajem através das armadilhas do mundo virtual. Um clique e
a miséria ao redor se transforma em
brilho e sedução. O resultado dá para imaginar: muita pornografia e
casos de meninos e meninas viciados em internet -presas fáceis para
pedófilos on line.
O problema foi objeto de uma série de reportagens do "Diário de
Pernambuco" antes das eleições.
Uma realidade estarrecedora que
deveria ser amplamente debatida
em todo o país. No interior de Pernambuco, um menino de 12 anos
trabalha vendendo coentro de porta em porta para ganhar R$ 2 -é,
dois reais- por mês, gastos integralmente numa hora e meia de lan
house. A mãe pensa que ele desperdiça a "fortuna" comendo porcaria
na rua e reclama da falta de mais
um dinheirinho para pôr comida
em casa. Ele trabalha, há quem roube ou vá além, relata o jornal.
Ribeirão (a 85 km de Recife) tem
cerca de 40 mil habitantes, 12 mil
dos quais na zona rural. Pois a cidadezinha já conta com 25 lan houses
e o conselho tutelar local começou a
registrar casos de adolescentes de
ambos os sexos que se prostituem
por até R$ 1 para se conectar.
No país que se recusa a crescer, o
lado perverso da tecnologia chegou
bem antes de uma educação decente e inclusiva. É a miséria.com.br.
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