São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Consciência se faz com educação

JOSÉ VICENTE


Os motivos de Zumbi continuam atuais e exigindo a mesma capacidade e a mesma disposição de luta.
A educação é a nossa arma.



CAROS LEITORES , é com grande alegria que compartilho minhas emoções nesta data muito especial.
Nossa nação, em especial a partir dos anos 90 do século passado, tem compreendido a importância histórica de Zumbi dos Palmares como um ícone do que ele foi e tem sido para a trajetória do negro e de todos os brasileiros, inscrevendo seu nome no panteão dos heróis da pátria, tornando feriado no Estado do Rio de Janeiro e na cidade de São Paulo, entre outras, a data do aniversário de sua morte, denominada como Dia Nacional da Consciência Negra.
Os motivos de Zumbi continuam atuais e exigindo a mesma capacidade e a mesma disposição de luta. Trilhamos novos e inéditos caminhos para a condução dessa nova etapa e escolhemos como arma a educação. Na certeza de leitores cônscios, não citarei nem um único índice negativo que diga respeito aos negros brasileiros. Hoje é dia de festa, de vitória, de rememorar o herói que há mais de 300 anos é lembrado, contado e cantado na casa grande e nas senzalas.
Concordo com os que advogam que os vários espaços de poder, prestígio e status social das instituições e das organizações sociais tendem a funcionar melhor quando incorporam pontos de vista diferenciados dos diversos grupos que compõem a população. O que é simbólico é real. Um negro ou uma mulher podem, sim, imprimir um novo olhar, um novo enfoque, uma nova expressão do espírito e da face da nação.
Por todo o país, pessoas e instituições públicas e privadas têm trabalhado para descobrir formas novas e desenhar iniciativas que, de modo efetivo, possam fazer uma condução eficiente e objetiva da inclusão, qualificação e valorização do negro.
Nós, da Afrobras da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, também estamos fazendo nossa parte. Hoje estamos presenteando todos os brasileiros com a realização do Troféu Raça Negra, numa verdadeira celebração à vida e ao valor do cidadão e em agradecimento a todos que contribuem para tornar realidade efetiva e perene esses valores. Autoridades, personalidades, artistas e pessoas comuns do país e do exterior estarão juntos à mesma mesa e de mãos dadas, elevando um brinde à força e à raça do negro brasileiro.
Com a Fundação Bradesco, estaremos mais uma vez impulsionando a crença do conhecimento como libertador de mentes e corações, entregando para a cidade de São Paulo, no bairro da Luz, sede da Unipalmares, mais um centro de inclusão digital.
Certamente toda a comunidade desse lugar castigado da cidade irá auxiliar a fazer-se uma nova luz.
A Unipalmares, com o inestimável apoio dos bancos Itaú, Bradesco, Real, Citibank, HSBC, Safra e Santander, comemora seus 300 jovens trainees de executivo júnior que estão tornando a av. Paulista muito mais bonita e colorida, e essas instituições, mais alegres e com cara de Brasil.
Encontrar universitários afrodescendentes de cabeça erguida, circulando sem constrangimento nem receio pelos corredores de cada vez mais universidades e das maiores e mais importantes empresas do país nos faz crer na nova realidade que, timidamente, começa a ser desenhada e consolidada -mais, já inicia seu processo de reprodução. A luz no fim do túnel já se deixa vislumbrar.
Os caminhos enveredados por todos aqueles que, ao longo de toda a história, procuraram construir um protagonismo para o negro brasileiro sempre estiveram integrados e compreendidos na indispensabilidade da educação.
Por causa dessa convicção, clamamos pela união, a fim de nos juntarmos em uma verdadeira usina de solidariedade em prol da educação como o veículo único de realização da consciência e do valor do ser humano, dos seus sonhos, das suas conquistas, da sua felicidade. Por isso, devemos ser todos pela educação. A educação liberta, a liberdade educa e, sem educação, jamais haverá liberdade.
Seguiremos convictos e certos dos novos tempos que estamos conformando. Democracia é a possibilidade de convívio na diferença, e república é bem comum, coisa de todos.
Aprendemos desde sempre a lutar e, agora, estamos prontos, mais fortes e com extrema disposição para, definitivamente, ajudar a construir uma nova história de protagonismo, cujo legado deverá ser de novos e promissores horizontes às gerações que nos sucederão.
Teremos todos novos moinhos a desafiar nosso empenho e nossa imaginação na direção da construção da conscientização que permita alcançar o Brasil justo e igualitário de que os negros precisam e do qual todos os brasileiros necessitam. Não nos faltarão energia, coragem ou vontade, pois a memória de Zumbi estará sempre no meio de nós.

JOSÉ VICENTE , 47, advogado e sociólogo, é reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares) e presidente da Afrobras (Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sociocultural).


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