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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Filme C
SÃO PAULO - Como "2 Filhos de
Francisco", "Lula, o Filho do Brasil"
é um filme sobre a superação. Ambos os enredos têm origem em histórias verídicas de brasileiros que,
nascidos na miséria e sem perspectivas pela frente, conseguem contornar as adversidades para ascender socialmente, até atingir os píncaros da glória individual e o ápice
do reconhecimento público.
A trajetória que vai da miséria ao
estrelato é parecida, mas, no primeiro caso, os personagens são
uma dupla sertaneja e, no segundo,
o presidente da República, o que
muda as coisas de figura. O pai deste Lula da Silva não é "Francisco",
mas "o Brasil".
Se a expressão "filme B" designa
as produções rudimentares, o cinema menor destinado ao consumo
ligeiro, parece que agora estamos
diante de um novo fenômeno: o "filme C". Com "Lula, o Filho do Brasil", o melodrama épico da vitória
pessoal sobre a pobreza se converte
em ideologia de uma época.
Esse gênero de entretenimento
com mensagem social e intenção
edificante já está presente em "2 Filhos de Francisco", mas ganhou
agora sua versão oficial com o carimbo do Planalto. A oportunidade
vislumbrada pelo clã Barreto para
lavar a égua e o estímulo de Lula a
tudo o que possa resultar no culto à
sua personalidade estão associados
numa obra que vai alimentar a confusão entre a sorte de um indivíduo
e o destino de um povo.
Em 1982, em sua primeira campanha eleitoral, quando disputou o
governo de São Paulo, Lula dizia ser
"um brasileiro igualzinho a você".
Anos depois, diria, em tom de ironia: "Ninguém queria ser um brasileiro igual a mim".
Hoje as coisas mudaram. É provável que a classe C emergente, a
quem o filme parece ser didaticamente dirigido, se reconheça e se
emocione diante da tela.
O Brasil continua a ser o país em
que a desigualdade ainda imensa
convive com infinitas formas de
mobilidade social. Mas estamos
avançando. Quem nos diz é esse filme simplesmente horroroso.
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