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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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O AJUSTE NÃO BASTA

É sintomático que o principal destaque do balanço de 2003 apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido a política econômica. O elogio veio não para saudar o advento de um "espetáculo do crescimento" que, precipitadamente anunciado, nem sequer se ensaiou. Veio, sim, para marcar o êxito do ajuste promovido, um verdadeiro "cavalo-de-pau" na economia -para reavivar imagem usada em maio pelo ministro José Dirceu.
Ninguém duvida de que seria impossível governar sem tomar medidas severas para debelar a crise de confiança que se instalou no período eleitoral e no início da nova gestão, provocando a disparada da cotação do dólar, da inflação e do risco-país.
Havia, em tese, dois grandes caminhos a adotar. O primeiro, mais centralizador e intervencionista, portanto mais fácil de ser localizado no antigo manual petista, seria adotar uma linha de mudança dos pressupostos do modelo vigente. Isso implicaria contrariar a agenda dos mercados financeiros e eventualmente abandonar mecanismos como o câmbio flutuante e as metas de inflação para instaurar outra lógica econômica.
A segunda opção, seria preservar o cânone, ou seja, manter o que existia e recorrer às medidas clássicas previstas para crises daquele tipo.
A escolha dessa alternativa foi recebida com alívio pelos mercados. Ela representou um "cavalo-de-pau" não apenas na economia, mas no discurso petista. No fundamental, portanto, o grande mérito do governo, ressaltado pelo presidente, foi adotar de maneira ortodoxa o receituário que em outros tempos o PT execrava em seus conhecidos ataques ao "neoliberalismo".
Certamente esta Folha não compartilha visões intervencionistas e estatizantes como as que o petismo anteriormente defendia. Entende, porém, que o atual modelo precisa ser redirecionado para colocar em primeiro plano não mais a ciranda financeira, e sim a produção, o emprego, o investimento, a redução da vulnerabilidade externa e a distribuição de renda. O sucesso do ajuste, a um custo elevadíssimo, está longe de assegurar um futuro promissor.


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