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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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A AMEAÇA DE SHARON

Existem dois caminhos para interpretar a ameaça do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de romper todos os laços com os palestinos caso não ocorram avanços no processo de paz nos próximos meses. Se o premiê fez essa declaração com intuito exclusivo de trazer os palestinos para a mesa de negociações, no âmbito do plano de paz patrocinado pelos EUA, então Sharon pode ter acertado. O premiê palestino, Ahmed Korei, apressou-se em dizer que estaria disposto a encontrar-se com seu homólogo israelense.
Por outro lado, se a ameaça de Sharon for para valer e Israel tentar de fato implementar a segregação física dos palestinos -proposta que encontra forte apoio dos israelenses-, os resultados tendem a ser desastrosos para os palestinos, para Israel e para a região. A paz sustentável pressupõe a criação de um Estado palestino autônomo e economicamente viável. Sem esses requisitos, Israel dificilmente poderá viver em segurança. Apartar os palestinos de Israel recorrendo a um complexo de cercas e barreiras não contribui para a criação de um Estado palestino sustentável.
Reconheça-se que Sharon quebrou um tabu em seu partido, o Likud, ao sugerir que assentamentos judaicos em territórios ocupados têm de ser desmantelados. Essas colônias judaicas são ilegais, moralmente indefensáveis e constituem um grave obstáculo para as negociações. Para que haja entendimento, será necessário acabar com todos os assentamentos, não apenas com os menores como Sharon sugeriu que faria.
A liderança palestina está enfraquecida. É do interesse de Israel reforçá-la para que o Estado judeu tenha um interlocutor e para que o desespero não tome conta da população palestina, o que tenderia a agravar o problema do terrorismo. Nesse contexto, o unilateralismo seria contraproducente. Até poderia reforçar momentaneamente a popularidade interna de um governo com prestígio em declínio, mas não aproximaria as duas partes da tão almejada paz.


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