São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003 |
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FERNANDO RODRIGUES Lula, notícias e ato falho
BRASÍLIA - Dois trechos do discurso de Lula sobre seu primeiro ano chamaram a atenção e contêm alguma novidade, pelo menos do ponto de
vista público. Primeiro, as referências
à imprensa. Segundo, a descrição do
serviço de José Dirceu.
No geral, as 153 páginas do discurso
são uma sucessão de obviedades
-elogios a Palocci, promessa de um
2004 melhor do que 2003 e por aí vai.
Só ao falar da imprensa e de José Dirceu o presidente foi além.
No caso do ministro da Casa Civil,
a frase é uma mistura de brincadeira
com ato falho. O ato falho, ensinou
Freud, ocorre quando o indivíduo revela de maneira involuntária algo
bem guardado na memória.
Eis o que disse o presidente sobre
Dirceu: "Eu não sei todos os acordos
que ele faz no Congresso Nacional".
Não sabe, como? Lula poderia estar
brincando. O ministro interpretou a
fala presidencial para jornalistas. Foi
"modo de falar". É, pode ser.
Já sobre a imprensa, Lula repetiu
um raciocínio usado outras vezes.
Agora, mais elaborado: "Eu aprendi
uma coisa: notícia é aquilo que nós
não queremos que seja publicado, o
resto é publicidade".
Axioma apresentado, propôs uma
solução aos ministros: "Se nós falarmos menos e falarmos apenas o necessário, certamente ficaremos mais
felizes a cada manhã, quando abrirmos as páginas dos jornais ou as páginas da revista".
Pode ter sido apenas uma "boutade" de Lula. Mas a proposta está aí,
clara: é melhor falar menos com a
imprensa. Por que falar quando se
tem uma máquina de propaganda e
marketing como ninguém teve na
República até hoje? Faz todo o sentido a sugestão presidencial.
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