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CARLOS HEITOR CONY
O incerto e o duvidoso
RIO DE JANEIRO - Leitores indignados estão mandando e-mails truculentos às Redações e aos colunistas estupefatos diante da pesquisa que
apontou Orestes Quércia na liderança de votos para a próxima sucessão
em São Paulo.
É evidente que os entendidos darão
as explicações necessárias. E a mídia,
em sua quase totalidade, esclarecerá
o eleitorado sobre a malignidade do
ex-governador, que pertence à raça
maldita da política nacional, acusado de improbidade administrativa,
enriquecimento ilícito, só não sendo
suspeito de ter matado o Lineu daquela novela que tanto sucesso fez.
Num primeiro momento, a explicação é primária: descrente da política
em si, desesperada pela falta de soluções para seus problemas mais imediatos, grande parte do eleitorado sofre o ataque de amnésia ou se entrega
à nostalgia do tempo que passou, que
só foi bom porque já passou.
Serve também para explicar fenômenos equivalentes em outras regiões do país, quando o ruim de ontem ameaça ser melhor do que o
ruim do presente. Mas será só isso?
No caso específico de Quércia, há
muito que ele curte uma sombra que
se aproxima do ostracismo, não detém cargos públicos, sua influência
não vai além da liderança de algumas parcelas do PMDB, partido do
qual se originou a vice-vestal da nossa política, o PSDB, uma vez que a
vestal titular era o PT.
Acontece que nem os tucanos nem
os petistas, que tiveram o poder, corresponderam ao que deles se esperava, satisfazendo plenamente o eleitorado, que de uma forma ou outra,
voltou-se não exatamente para o
partido, mas para seus caciques, um
deles sendo Quércia.
Será difícil para ele manter a liderança na preferência dos paulistas
mais esclarecidos. Todas as bocas de
fogo, dos partidos e da mídia, estarão
voltadas contra a sua possível candidatura ao governo de São Paulo. Os
eleitores deram seu recado: não estão
satisfeitos e preferem o incerto pelo
duvidoso.
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