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FERNANDO RODRIGUES
O Congresso e a sociedade
BRASÍLIA - O Supremo Tribunal
Federal derrubou o aumento salarial de 91% autoconcedido por deputados e senadores. O reajuste
caiu porque era ilegal. Não houve
relação com uma suposta pressão
da sociedade.
A mobilização dos brasileiros até
agora se restringiu a reportagens na
mídia, e-mails em profusão e alguns
gatos pingados gritando em cidades
grandes. Pouco para mudar a opinião dos políticos.
Sobre cidadania e capacidade associativa, pesquisa Ibope revelou
um cenário assustador -ressaltado
ontem pelo prefeito do Rio, César
Maia. "Trabalha para um partido
político ou candidatos, mesmo que
seja como voluntário?", perguntou
o instituto -91% responderam
"nunca" ou "quase nunca".
"Trabalha pela defesa de propostas ou idéias que afetam a sua vida
ou a de sua comunidade?", foi outra
questão. Nesse caso, 79% disseram
"nunca" ou "quase nunca".
Diante desse limbo, o Congresso
vota hoje uma medida a respeito
dos salários de deputados e senadores em 2007. O aumento deve ser
menor. O estipêndio seria de "apenas" cerca de R$ 16,5 mil.
Pouco será decidido com relação
aos benefícios obscuros e indiretos
dos congressistas. As tais verbas indenizatórias para gasolina e contas
de telefone -muitas vezes justificadas com notas fiscais frias.
A Câmara tem cerca de 16 mil
funcionários. Neste ano, seu orçamento foi de R$ 2,6 bilhões. Esse
valor só é menor do que o dinheiro
gasto por três das 5.562 cidades
brasileiras: São Paulo, Rio e Belo
Horizonte. No Senado, os números
são semelhantes, mas não há como
citá-los com precisão, pois aquela
Casa se recusa a abrir seus dados.
O valor final dos salários será o
menos importante hoje. A farra
gastadora continuará igual nos bastidores. E o brasileiro médio, esse
ser bondoso e cordial, não ficará sabendo nem vai se importar.
frodriguesbsb@uol.com.br
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