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SERGIO COSTA
Notícias, meios e fins
RIO DE JANEIRO - Na contramão das evidências, o jornalista José Messias Xavier disse que tentou
se infiltrar em quadrilha de contraventor para escrever um livro. Divulgada pela emissora onde trabalhava (foi demitido pelas evidências), a versão do repórter abre a janela para uma discussão que tende
a ficar na lateral desse caso, ofuscada pelas notícias de investigações
envolvendo policiais e máfias que já
mataram mais de 50 numa guerra
caça-níquel.
Na tal explicação, o fim justificaria o meio: travestir-se de criminoso para produzir material "jornalístico". Não justifica. Mais: rompe
com limites legais e éticos que devem nortear a profissão.
Mas, mesmo que não fosse assim
e o repórter estivesse realmente
atuando como um "agente secreto"
a serviço da informação, teria de, ao
menos, ser lembrado do que aconteceu com Tim Lopes. O assunto é
delicado. Os dois casos são extremos -opostos até-, mas valem um
paralelo, nem que seja para alertar
estudantes e jovens repórteres.
De origem humilde, cria do morro da Mangueira, repórter que muitas vezes encarnava o personagem
de suas matérias, Tim foi assassinado a golpes de sabre, em 2002, depois de tentar se passar por freqüentador de baile funk em favela.
Pretendia denunciar a exploração
sexual de menores pelo tráfico.
Seu objetivo, como se vê, era nobre. Mesmo assim, o meio não o justificava. Tim "invadiu" um território sem lei e sem segurança. Tentou
se escudar na malandragem de sua
origem. Estranho no baile ao ar livre, acabou descoberto -denunciado pelos cabelos brancos e pela barriga- por criminosos que havia flagrado em outra reportagem. Virou
símbolo e marco de um tempo em
que jornalistas devem redobrar cuidados para não virar notícia. Elas
são sempre ruins.
sergioqc@uol.com.br
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