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A necessidade de um canal de comunicação
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
O presidente Fernando Henrique
Cardoso declarou sua firme disposição de criar um novo ministério para
estimular a produção e promover as
exportações brasileiras.
Nada mais urgente do que produzir
e exportar mais. O Brasil, que, ao longo de quase um século (1900-1990),
cresceu à base de 5% ao ano, em média, vive este final de milênio com a
ameaça de crescimento zero ou até
negativo.
O flagelo dos juros altos ensinou que
de nada adianta ter US$ 70 bilhões de
reservas se elas constituem, na sua
maioria, recursos especulativos que
vão embora de uma hora para a outra,
como, de fato, foram.
A reserva que realmente interessa ao
Brasil é um saldo comercial avolumado que resulte de um bom superávit
das exportações sobre as importações.
Esse é o grande salto a ser dado.
O governo acertou quando estabeleceu a meta de US$ 100 bilhões de exportações para o ano 2002. Mas faltou
dizer "como" o país chegará lá. Essa
meta jamais será atingida com juros
escorchantes e câmbio defasado.
O sucesso do novo ministério vai depender do seu modo de atuar. Não
basta criar ministérios e mudar ministros. É preciso criar mecanismos e
mudar políticas.
No meu entender, o que falta no
Brasil é um canal de comunicação
bem aberto entre produtores e governantes. Esses agentes precisam estar
do mesmo lado e trabalhar juntos, dia
e noite.
Esse "dia e noite" não está aí por
acaso. Os japoneses descobriram, há
muito tempo, que, enquanto dormiam, os seus concorrentes negociavam. Por isso, o Japão criou um ministério para estimular produção e exportação (o Miti), que é um organismo híbrido, composto de produtores
privados e administradores públicos,
dentro do qual inúmeros departamentos trabalham dia e noite, é claro, em
três turnos de oito horas, pois ninguém é de ferro...
A agressividade dos japoneses é
mundialmente conhecida. Durante
muito tempo os produtores partiram
pessoalmente para viagens ao redor
do mundo, de mostruário em punho,
para vender seus produtos. E, nessas
missões, eles eram acompanhados por
funcionários do Miti, que participavam das negociações, registravam os
problemas e tomavam providências
imediatas para a sua solução.
O hibridismo e a dinâmica descritos
são essenciais. Não há como escapar.
Um ministério desse tipo tem de ser
um amálgama de produtores e governantes. Governo e sociedade precisam
fazer parte da mesma empreitada.
Não estou propondo cópias. Mas
penso não haver vantagem em ignorar
experiências que deram certo. A abertura de um canal direto de comunicação é fundamental. A resultante dessa
aproximação terá de ser um Brasil forte!
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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