São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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A necessidade de um canal de comunicação

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O presidente Fernando Henrique Cardoso declarou sua firme disposição de criar um novo ministério para estimular a produção e promover as exportações brasileiras.
Nada mais urgente do que produzir e exportar mais. O Brasil, que, ao longo de quase um século (1900-1990), cresceu à base de 5% ao ano, em média, vive este final de milênio com a ameaça de crescimento zero ou até negativo.
O flagelo dos juros altos ensinou que de nada adianta ter US$ 70 bilhões de reservas se elas constituem, na sua maioria, recursos especulativos que vão embora de uma hora para a outra, como, de fato, foram.
A reserva que realmente interessa ao Brasil é um saldo comercial avolumado que resulte de um bom superávit das exportações sobre as importações. Esse é o grande salto a ser dado.
O governo acertou quando estabeleceu a meta de US$ 100 bilhões de exportações para o ano 2002. Mas faltou dizer "como" o país chegará lá. Essa meta jamais será atingida com juros escorchantes e câmbio defasado.
O sucesso do novo ministério vai depender do seu modo de atuar. Não basta criar ministérios e mudar ministros. É preciso criar mecanismos e mudar políticas.
No meu entender, o que falta no Brasil é um canal de comunicação bem aberto entre produtores e governantes. Esses agentes precisam estar do mesmo lado e trabalhar juntos, dia e noite.
Esse "dia e noite" não está aí por acaso. Os japoneses descobriram, há muito tempo, que, enquanto dormiam, os seus concorrentes negociavam. Por isso, o Japão criou um ministério para estimular produção e exportação (o Miti), que é um organismo híbrido, composto de produtores privados e administradores públicos, dentro do qual inúmeros departamentos trabalham dia e noite, é claro, em três turnos de oito horas, pois ninguém é de ferro...
A agressividade dos japoneses é mundialmente conhecida. Durante muito tempo os produtores partiram pessoalmente para viagens ao redor do mundo, de mostruário em punho, para vender seus produtos. E, nessas missões, eles eram acompanhados por funcionários do Miti, que participavam das negociações, registravam os problemas e tomavam providências imediatas para a sua solução.
O hibridismo e a dinâmica descritos são essenciais. Não há como escapar. Um ministério desse tipo tem de ser um amálgama de produtores e governantes. Governo e sociedade precisam fazer parte da mesma empreitada.
Não estou propondo cópias. Mas penso não haver vantagem em ignorar experiências que deram certo. A abertura de um canal direto de comunicação é fundamental. A resultante dessa aproximação terá de ser um Brasil forte!


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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