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Prêmio e castigo
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Comentei, outro dia,
o tratamento diferenciado que a mídia dedicou a dois fatos análogos: os
telefonemas grampeados do ministro
das Comunicações e do presidente do
BNDES; e a mesmíssima coisa envolvendo deputados estaduais do Rio.
O grampo foi rigorosamente igual.
Os arapongas que o praticaram até
podiam ser os mesmos. Fato sem dúvida condenável, que merece repúdio e
exige punição.
No entanto a mídia continuou batendo forte no caso dos deputados fluminenses, e tanto bateu que a Assembléia Legislativa, pressionada, não teve outro remédio senão cassar o principal envolvido no caso da privatização de uma estatal.
Já no plano federal, a mídia continua enlanguescida pelo poder que jorra do governo. Tudo é desculpável, tudo é boa gente, gente brilhante, como
o presidente da República, que sabe
dizer em quatro línguas as obviedades
que arrepiam a espinha do conselheiro Acácio.
Os dois casos -o federal e o estadual- ocorreram quase ao mesmo
tempo. A mídia, como um todo, foi relegando o noticiário do escândalo federal para as páginas internas, as notinhas escondidas e redigidas com
cautela para não ferir ninguém. Daí
que o leitor médio já nem se lembra
que houve favorecimento no leilão das
teles. E que as comissões de praxe já
estão pagas e protegidas nos paraísos
fiscais.
No caso estadual, quando o jabá não
ultrapassou míseros R$ 70 mil por cabeça, pelo menos o deputado que serviu de testa-de-ferro dos interessados
está com o mandato cassado, podendo
inclusive ser processado criminalmente.
Pudera: o escândalo da privatização
dos esgotos do Rio estourou em páginas inteiras, em páginas duplas dos
principais veículos de comunicação.
Evidente que, em casos assim, a opinião pública, uma vez bem informada, sabe cobrar o castigo. Anestesiada
em outros casos, ela nem percebe que
mais uma vez o crime foi recompensado.
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