São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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Prêmio e castigo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Comentei, outro dia, o tratamento diferenciado que a mídia dedicou a dois fatos análogos: os telefonemas grampeados do ministro das Comunicações e do presidente do BNDES; e a mesmíssima coisa envolvendo deputados estaduais do Rio.
O grampo foi rigorosamente igual. Os arapongas que o praticaram até podiam ser os mesmos. Fato sem dúvida condenável, que merece repúdio e exige punição.
No entanto a mídia continuou batendo forte no caso dos deputados fluminenses, e tanto bateu que a Assembléia Legislativa, pressionada, não teve outro remédio senão cassar o principal envolvido no caso da privatização de uma estatal.
Já no plano federal, a mídia continua enlanguescida pelo poder que jorra do governo. Tudo é desculpável, tudo é boa gente, gente brilhante, como o presidente da República, que sabe dizer em quatro línguas as obviedades que arrepiam a espinha do conselheiro Acácio.
Os dois casos -o federal e o estadual- ocorreram quase ao mesmo tempo. A mídia, como um todo, foi relegando o noticiário do escândalo federal para as páginas internas, as notinhas escondidas e redigidas com cautela para não ferir ninguém. Daí que o leitor médio já nem se lembra que houve favorecimento no leilão das teles. E que as comissões de praxe já estão pagas e protegidas nos paraísos fiscais.
No caso estadual, quando o jabá não ultrapassou míseros R$ 70 mil por cabeça, pelo menos o deputado que serviu de testa-de-ferro dos interessados está com o mandato cassado, podendo inclusive ser processado criminalmente.
Pudera: o escândalo da privatização dos esgotos do Rio estourou em páginas inteiras, em páginas duplas dos principais veículos de comunicação. Evidente que, em casos assim, a opinião pública, uma vez bem informada, sabe cobrar o castigo. Anestesiada em outros casos, ela nem percebe que mais uma vez o crime foi recompensado.



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