São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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O que a Fiesp quer



A Fiesp/Ciesp não pensa em defender a volta às reservas de mercado para a indústria nem busca subsídios ou privilégios
HORACIO LAFER PIVA
Generosamente, a mídia nacional tem ressaltado nas últimas semanas uma nova postura de pressão, em relação ao governo, por parte da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp). Nem poderia ser de outro jeito. Após cinco anos de total apoio ao Plano Real e à estabilização da moeda -esta fundamental para o país-, o setor industrial enfrenta, de novo, taxas de juros insuportáveis, bem como uma sobrecarga tributária, confusa e improvisada, ainda maior do que antes. Quase sufocada, a indústria brasileira literalmente luta, neste momento, pela sobrevivência.
E há um fato novo. Mesmo escorada temporariamente pela ajuda emergencial do G-7, com a colaboração do FMI e do Banco Mundial, a política econômica do governo federal está, neste momento, patinando. Ela foi marcada, nestes quatro anos, por uma visão monetarista implacável; ao mesmo tempo, mostrou-se complacente em questões críticas para o país, a começar pelo controle da despesa pública.
Não há como deixar de admirar a competência do ministro Pedro Malan por seu sucesso na luta contra o flagelo da inflação. Nem há como deixar de admitir que as dramáticas turbulências trazidas pela globalização eletrônica dos mercados financeiros criaram, com as sucessivas crises despontando no México, nos países do Sudeste Asiático e na Rússia, situações impossíveis de prever. Turbulências tais que sacudiram até as convicções ortodoxas dos economistas internacionais que ditam, a partir de Washington, a política econômica do mundo quase inteiro.
Essa revisão da fé monetarista não alcançou, contudo, alguns fundamentalistas instalados no Ministério da Fazenda, no Banco Central e em determinadas universidades. Estes últimos, em lugar de rever a sua doutrina, têm manifestado publicamente a preocupação de que, diante da crise interna, as lideranças do setor produtivo brasileiro, entre as quais a Fiesp/Ciesp, pressionem o governo para que "volte ao passado", recolocando a economia sob a ameaça da inflação.
Estão erradas essas leituras dogmáticas. A Fiesp ficou preocupada, sim, com as palavras do presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que parece disposto a imolar as empresas privadas nacionais, as quais ficariam disponíveis para compradores de fora, a preço vil, tão logo se aprofundasse a recessão. Assusta-nos essa visão de que o controle de nossas empresas representa a última linha de defesa da moeda estável.
Mas a Fiesp/Ciesp repete que não pensa em defender a volta às reservas de mercado para a indústria nem está em busca de subsídios ou privilégios. Acontece que ela tem olhos para constatar, como todos os brasileiros, que a política econômica derrapa porque o governo, em quatro anos, não conseguiu controlar sua despesa pública. Ela enxerga, como todos, que não terá fim essa desesperada corrida por aumentar, mais e mais, impostos e juros para transferir o custo de uma aposta errada ao setor privado. Enquanto isso, a economia afunda na recessão.
As simples soluções monetaristas não dão mais respostas aos problemas do país. A Fiesp/Ciesp continua apoiando o governo de Fernando Henrique Cardoso e a defesa da moeda, mas sugere uma nova linha econômica, que adicione a essa defesa algumas políticas setoriais e regionais que encorajem a produção e mantenham os empregos. Esse é o tema do "Pacto pela Produção e pelo Emprego", que procuramos articular com lideranças dos trabalhadores e com políticos de todos os partidos.
Nesse esforço de análise e formulação de novas políticas que possam favorecer a produção está empenhada hoje a Fiesp/Ciesp, de maneira transparente e chamando para o diálogo público todas as forças da sociedade, inclusive os consumidores. Por isso, apoiamos a criação do Ministério do Desenvolvimento, não como panacéia, mas como coordenador e interlocutor do setor produtivo. Assim, esperamos influir na construção de uma política econômica que faça o país crescer de novo. Será um longo caminho, mas que, definitivamente, transformará o Brasil do futuro no país do presente.



Horacio Lafer Piva, 41, empresário, é presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).





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