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GABRIELA WOLTHERS
Uma questão de Estado
RIO DE JANEIRO - A polêmica travada em torno da reforma da Previdência é mais um exemplo que ratifica a dificuldade de se reformar um Estado
que durante séculos foi sendo constituído com o objetivo de beneficiar diretamente apenas uma pequena parcela da população. O problema é que,
na tentativa de reverter esse quadro,
optou-se por incluir cada vez mais
gente nos rol dos benefícios sem nada
tirar dos que já muito possuíam.
Até a Constituição de 1988, apenas
uma parcela dos funcionários que
trabalhavam para o Estado tinha direitos como estabilidade e aposentadoria integral. O restante era regido
pelas regras da iniciativa privada.
Os parlamentares consideraram isso uma injustiça e estenderam o benefício a todos os servidores. Havia
injustiça? Havia. Havia dinheiro para incluir todo mundo na mesma regra? Não. Diminuiu-se, então, parte
dos benefícios concedidos para aumentar o número de pessoas atendidas? Não. Como o dinheiro continuou o mesmo, a conta não fecha.
Como o rombo foi aumentando,
chegou-se agora à situação crítica de
propor que todos os trabalhadores,
seja da iniciativa privada, seja do serviço público, tenham os mesmos direitos. Já que não há dinheiro para
todos, que a penúria seja universal.
Essa pode não ser a melhor saída.
Como o Estado não consegue pagar
os salários da iniciativa privada, corre o risco de perder os melhores quadros se não houver algum tipo de
compensação. A questão é definir
quais carreiras devem ser diferenciadas e como financiá-las. Entre a regra atual e a migração de todos para
um sistema único, há o meio-termo.
Se na Alemanha os militares se aposentam com 75% de seus vencimentos, por que aqui é diferente?
O prosseguimento do debate não
impede que sejam tomadas medidas
imediatas para coibir aberrações.
Atualmente, por exemplo, os servidores contribuem com 11% de seus vencimentos para a Previdência. Como
eles deixam de pagá-la ao se aposentarem, recebem mais do que quando
estavam na ativa. Ganhar mais ao
parar de trabalhar não dá.
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