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Petrobrás, o "fato novo fiscal"
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Enquanto o governo jogava
tudo para o Congresso criar a contribuição dos inativos e aumentar a dos
ativos da Previdência, teve gente fazendo algumas contas rápidas.
O objetivo do pacote fiscal é arrecadar R$ 27 bilhões, incluindo em torno
de R$ 4 bilhões dos contracheques de
funcionários e aposentados.
Pois, só com a desvalorização cambial, há quem calcule que as perdas já
estejam perto de R$ 30 bilhões.
Conclusão: tudo o que se pode somar, talvez, quem sabe, se Deus e o
Congresso ajudarem, está sendo automaticamente diminuído pela desvalorização. Que já está aí.
Isso significa que o governo, além de
manter uma política monetária dura
e fazer das tripas coração para melhorar a expectativa externa, vai ter que
jogar firme para garantir a qualquer
custo o ajuste já proposto e tentar
criar "um fato novo fiscal".
A expressão está assim, entre aspas,
porque se trata de um eufemismo para
dizer o seguinte: aumentar impostos
de novo (o que ninguém suporta) ou
partir como leão para devorar o que
resta de estatais (o que vai enlouquecer a oposição e parte da situação).
Para ficar ainda mais claro: o que
resta de equipe econômica está com
olho gordo sobre a Petrobrás ("jóia da
coroa"), o Banco do Brasil e até a Caixa Econômica Federal.
A Vale do Rio Doce e o sistema de
telecomunicações já foram privatizados. Já deram o que tinham que dar.
Então o resto que se cuide.
A voracidade, porém, tem custos políticos que precisam ser muito bem
avaliados. Discurso por discurso não
mobiliza ninguém. A oposição, sozinha, também não. Os sindicatos estão
mais preocupados com os empregos.
Falar em vender a Petrobrás, o BB e
a CEF num momento de fragilidade
do governo pode ser tanto ou mais incendiário do que a moratória de Itamar Franco em Minas.
Pode ser a forma mais eficaz de começar o que nada conseguiu até agora, nem o congelamento de salários
públicos, nem o desemprego, nem a
falta de políticas sociais: botar o bloco
na rua. E não exatamente para pular
o Carnaval.
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