São Paulo, quinta, 21 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petrobrás, o "fato novo fiscal"

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Enquanto o governo jogava tudo para o Congresso criar a contribuição dos inativos e aumentar a dos ativos da Previdência, teve gente fazendo algumas contas rápidas.
O objetivo do pacote fiscal é arrecadar R$ 27 bilhões, incluindo em torno de R$ 4 bilhões dos contracheques de funcionários e aposentados.
Pois, só com a desvalorização cambial, há quem calcule que as perdas já estejam perto de R$ 30 bilhões.
Conclusão: tudo o que se pode somar, talvez, quem sabe, se Deus e o Congresso ajudarem, está sendo automaticamente diminuído pela desvalorização. Que já está aí.
Isso significa que o governo, além de manter uma política monetária dura e fazer das tripas coração para melhorar a expectativa externa, vai ter que jogar firme para garantir a qualquer custo o ajuste já proposto e tentar criar "um fato novo fiscal".
A expressão está assim, entre aspas, porque se trata de um eufemismo para dizer o seguinte: aumentar impostos de novo (o que ninguém suporta) ou partir como leão para devorar o que resta de estatais (o que vai enlouquecer a oposição e parte da situação).
Para ficar ainda mais claro: o que resta de equipe econômica está com olho gordo sobre a Petrobrás ("jóia da coroa"), o Banco do Brasil e até a Caixa Econômica Federal.
A Vale do Rio Doce e o sistema de telecomunicações já foram privatizados. Já deram o que tinham que dar. Então o resto que se cuide.
A voracidade, porém, tem custos políticos que precisam ser muito bem avaliados. Discurso por discurso não mobiliza ninguém. A oposição, sozinha, também não. Os sindicatos estão mais preocupados com os empregos.
Falar em vender a Petrobrás, o BB e a CEF num momento de fragilidade do governo pode ser tanto ou mais incendiário do que a moratória de Itamar Franco em Minas.
Pode ser a forma mais eficaz de começar o que nada conseguiu até agora, nem o congelamento de salários públicos, nem o desemprego, nem a falta de políticas sociais: botar o bloco na rua. E não exatamente para pular o Carnaval.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.