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A história pode se repetir
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Com mais ou menos
destaque, os jornais publicaram a foto
em que aparecem, juntos, os governadores de Minas, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul. São personalidades diferentes e com histórico até contraditório.
Estiveram reunidos pela necessidade
de renegociar as dívidas com a União.
Mas, durante as conversações dos três
com outros governadores, rolou assunto maior e mais explosivo: a falência do pacto federativo.
Não pretendo ser ave de mau agouro, mas sou obrigado a lembrar que a
reunião de Belo Horizonte não deixa
de ser um replay de nossa história.
Substituindo o governador do Rio pelo
da Paraíba, teríamos o mesmo esquema da Aliança Liberal que desencadeou a revolução de 1930.
As circunstâncias mantêm espantosa analogia: a crise internacional nas
Bolsas e a hegemonia de São Paulo na
política nacional.
Com o crack da Bolsa de Nova York,
em 1929, a base de nossa economia (o
café) se esboroou. Não havia FMI na
época, mas o Brasil estava penhorado
até o pescoço numa casa bancária nova-iorquina, a Lazard, Brothers & Co.
E a política da Velha República
apoiava-se no rodízio dos dois Estados
mais importantes da época, Minas e
São Paulo, que ocupavam alternadamente a Presidência da República.
Um fluminense de Macaé, mas com
carreira política feita em São Paulo
(Washington Luiz), revelou-se mais
paulista do que os paulistas: rompeu o
informal pacto federativo e tentou impor mais um paulista no governo da
União.
Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba
viraram a mesa. Aparentemente, poderia parecer uma briga de ressentidos ou insatisfeitos com o Catete. A
verdade é que a economia em frangalhos pela dívida externa, agravada pela queda dos preços no café, e a voracidade da política paulista em se
manter no poder criaram as condições
para a revolução.
Coincidência ou não, a diferença
com a situação de hoje é que FHC não
é paulista de Macaé, mas de Botafogo.
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