São Paulo, quinta, 21 de janeiro de 1999

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A história pode se repetir

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Com mais ou menos destaque, os jornais publicaram a foto em que aparecem, juntos, os governadores de Minas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. São personalidades diferentes e com histórico até contraditório.
Estiveram reunidos pela necessidade de renegociar as dívidas com a União. Mas, durante as conversações dos três com outros governadores, rolou assunto maior e mais explosivo: a falência do pacto federativo.
Não pretendo ser ave de mau agouro, mas sou obrigado a lembrar que a reunião de Belo Horizonte não deixa de ser um replay de nossa história. Substituindo o governador do Rio pelo da Paraíba, teríamos o mesmo esquema da Aliança Liberal que desencadeou a revolução de 1930.
As circunstâncias mantêm espantosa analogia: a crise internacional nas Bolsas e a hegemonia de São Paulo na política nacional.
Com o crack da Bolsa de Nova York, em 1929, a base de nossa economia (o café) se esboroou. Não havia FMI na época, mas o Brasil estava penhorado até o pescoço numa casa bancária nova-iorquina, a Lazard, Brothers & Co.
E a política da Velha República apoiava-se no rodízio dos dois Estados mais importantes da época, Minas e São Paulo, que ocupavam alternadamente a Presidência da República. Um fluminense de Macaé, mas com carreira política feita em São Paulo (Washington Luiz), revelou-se mais paulista do que os paulistas: rompeu o informal pacto federativo e tentou impor mais um paulista no governo da União.
Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba viraram a mesa. Aparentemente, poderia parecer uma briga de ressentidos ou insatisfeitos com o Catete. A verdade é que a economia em frangalhos pela dívida externa, agravada pela queda dos preços no café, e a voracidade da política paulista em se manter no poder criaram as condições para a revolução.
Coincidência ou não, a diferença com a situação de hoje é que FHC não é paulista de Macaé, mas de Botafogo.



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