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CARLOS HEITOR CONY
Homenagens
RIO DE JANEIRO - Outro dia, um
cronista de brado retumbante como aquele grito do hino nacional
desabafou com uma amiga. Disse
ele que fizera anos, 50 parece, e dera uma festa num lugar badaladíssimo em São Paulo, às margens do
Ipiranga, como no hino acima citado. Mais de 300 pessoas, presentes
mil, milhões de tapinhas nas costas.
E o mais interessante: ele não entrou com um centavo para a festa.
Foi tudo mordomia dos amigos do
peito, dos amigos de infância e recentes que desejavam festejar o
colunista.
Chegou a ouvir um discurso, candidato a governador não perdera a
oportunidade e deitara verbo inflamado, enaltecendo as qualidades
do aniversariante e insinuando que,
eleito como as pesquisas apontavam, faria dele seu assessor de imprensa. (Palmas)
Estava feliz? Não. Lembrava-se
que no ano anterior ficara sem jornal, não tinha coluna. Ele passara o
dia junto ao telefone, ninguém ligara para ele. Quando noite caiu, tomou coragem. Afinal, era o aniversário dele. Chamou cinco amigos,
foram jantar no Fasano, quem pagou a conta foi ele.
E teve um momento bom: no
meio do jantar, chegara a se esquecer que fazia anos naquele dia. E os
amigos nem sabiam por que haviam
sido convidados.
Ao voltar para casa, ao menos estava tranquilo. Ele não esquecera
de se festejar e encontrara cinco
amigos que sem saber o ajudaram a
se comemorar. Mas antes de dormir resvalou na fossa: ele é quem
tomara a iniciativa de se festejar.
Mas agora, com 300 amigos em volta, recebendo palmadinhas nas costas, milhões de presentes, entupindo-se de champanhe paga pelos outros, o aniversário anterior devia
ser esquecido.
A amiga perguntou se agora ele
estava feliz. - "Não - respondeu.
-Estou pior do que no ano passado".
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