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MAUS E BONS SINAIS
Dentro da profusão de indicadores que buscam retratar a
evolução da atividade produtiva e do
mercado de trabalho no país, os resultados positivos -quase ausentes
até meados do ano passado- vêm
progressivamente se tornando mais
freqüentes e mais nítidos. No entanto, em diversos campos, sinais adversos ainda persistem, realimentando a incerteza em relação à pujança
da retomada da economia.
Talvez os indicadores mais preocupantes sejam aqueles relativos ao
mercado de trabalho. A deterioração
acumulada nos últimos anos foi
muito grave: o desemprego aumentou de maneira significativa e se
mantém alto, enquanto o nível de
renda despencou. Hoje o rendimento médio do trabalhador situa-se cerca de 20% abaixo do seu nível em
1998, em termos reais.
O ano de 2003 marcou o momento
mais agudo dessa queda do poder de
compra. Nem mesmo os trabalhadores com carteira assinada, que em
geral têm maior capacidade de negociação, escaparam. Segundo o Dieese, as negociações salariais realizadas por esses trabalhadores no ano
passado trouxeram os resultados
mais adversos já apurados por sua
pesquisa (iniciada em 1996): seis em
cada dez acordos nem sequer repuseram perdas causadas pela inflação.
Não se sabe ao certo por quanto
tempo e com que intensidade essa
piora do mercado de trabalho irá prejudicar o dinamismo do consumo.
Recente pesquisa do IBGE apurou
que em janeiro teve prosseguimento
a recuperação, iniciada nos meses finais do ano passado, das vendas do
comércio varejista, mas elas continuam bastante tímidas.
Há elementos até mesmo a sugerir
que o quadro muito negativo do
mercado de trabalho começa, ainda
incipientemente, a melhorar.
Graças sobretudo ao recuo da inflação, desde fins do ano passado o
poder de compra dos trabalhadores
ocupados vem esboçando uma lenta
recuperação. E também pelo lado da
ocupação surgem alguns indícios
qualitativos positivos.
É sabido que uma elevação mais
forte do número de pessoas ocupadas nem sempre é sintoma de saúde
da economia, pois em conjunturas
de queda expressiva dos rendimentos é comum que mais pessoas busquem alguma atividade remunerada
para complementar o orçamento familiar. Por essa razão, é importante
avaliar também a qualidade das ocupações criadas.
Nesse aspecto, têm surgido boas
notícias. Segundo levantamento do
Ministério do Trabalho, a criação de
empregos formais avançou no primeiro bimestre. De janeiro para fevereiro, o aumento do número de empregados com carteira assinada foi
próximo de 140 mil, o que significou
uma expansão de 0,6%, a maior já registrada em meses de fevereiro.
Essas vagas formais, em média,
proporcionam maior remuneração
aos trabalhadores do que os empregos informais, e a disposição dos
empresários de abri-las -em lugar
de recorrer a mais horas extras de
seus empregados antigos ou a contratações informais- é indicativa de
que começam a confiar numa recuperação mais firme da economia.
Medidas que alimentem essa confiança -como reduções adicionais
de juros e a definição de estímulos ao
investimento- são essenciais.
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