São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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MAUS E BONS SINAIS

Dentro da profusão de indicadores que buscam retratar a evolução da atividade produtiva e do mercado de trabalho no país, os resultados positivos -quase ausentes até meados do ano passado- vêm progressivamente se tornando mais freqüentes e mais nítidos. No entanto, em diversos campos, sinais adversos ainda persistem, realimentando a incerteza em relação à pujança da retomada da economia.
Talvez os indicadores mais preocupantes sejam aqueles relativos ao mercado de trabalho. A deterioração acumulada nos últimos anos foi muito grave: o desemprego aumentou de maneira significativa e se mantém alto, enquanto o nível de renda despencou. Hoje o rendimento médio do trabalhador situa-se cerca de 20% abaixo do seu nível em 1998, em termos reais.
O ano de 2003 marcou o momento mais agudo dessa queda do poder de compra. Nem mesmo os trabalhadores com carteira assinada, que em geral têm maior capacidade de negociação, escaparam. Segundo o Dieese, as negociações salariais realizadas por esses trabalhadores no ano passado trouxeram os resultados mais adversos já apurados por sua pesquisa (iniciada em 1996): seis em cada dez acordos nem sequer repuseram perdas causadas pela inflação.
Não se sabe ao certo por quanto tempo e com que intensidade essa piora do mercado de trabalho irá prejudicar o dinamismo do consumo. Recente pesquisa do IBGE apurou que em janeiro teve prosseguimento a recuperação, iniciada nos meses finais do ano passado, das vendas do comércio varejista, mas elas continuam bastante tímidas.
Há elementos até mesmo a sugerir que o quadro muito negativo do mercado de trabalho começa, ainda incipientemente, a melhorar.
Graças sobretudo ao recuo da inflação, desde fins do ano passado o poder de compra dos trabalhadores ocupados vem esboçando uma lenta recuperação. E também pelo lado da ocupação surgem alguns indícios qualitativos positivos.
É sabido que uma elevação mais forte do número de pessoas ocupadas nem sempre é sintoma de saúde da economia, pois em conjunturas de queda expressiva dos rendimentos é comum que mais pessoas busquem alguma atividade remunerada para complementar o orçamento familiar. Por essa razão, é importante avaliar também a qualidade das ocupações criadas.
Nesse aspecto, têm surgido boas notícias. Segundo levantamento do Ministério do Trabalho, a criação de empregos formais avançou no primeiro bimestre. De janeiro para fevereiro, o aumento do número de empregados com carteira assinada foi próximo de 140 mil, o que significou uma expansão de 0,6%, a maior já registrada em meses de fevereiro.
Essas vagas formais, em média, proporcionam maior remuneração aos trabalhadores do que os empregos informais, e a disposição dos empresários de abri-las -em lugar de recorrer a mais horas extras de seus empregados antigos ou a contratações informais- é indicativa de que começam a confiar numa recuperação mais firme da economia.
Medidas que alimentem essa confiança -como reduções adicionais de juros e a definição de estímulos ao investimento- são essenciais.


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