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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O fim do bom senso
O terror mudou o ambiente social da Europa. Os ataques à Espanha demonstraram que os terroristas não têm alma ou preferência geográfica. Sua estratégia é política e sua
tática é oportunista. Os ataques são
deflagrados em momentos críticos,
para transformar a psicologia popular, o comportamento político e até
mesmo o estilo de vida.
O mundo já foi perseguido por guerras, pragas e epidemias. Tais fenômenos sempre puseram as populações
em sobressalto, pois nada podiam fazer. No século 21, o grande fantasma é
o terrorismo. Os acontecimentos de 11
de setembro de 2001 puseram os americanos em pânico. Por muito tempo,
as pessoas se recusaram a sair de casa.
As viagens despencaram. O próprio
consumo caiu. E a economia, como
um todo, sofreu um baque que só agora começa a superar.
Em 2004, chegou a vez da Europa. O
ataque à Espanha foi um recado de
outros ataques que estão programados para o Velho Continente. A reação
dos europeus não foi diferente. O elevado turismo na Espanha e na França
já mostra sensíveis quedas. Milhares
de viagens foram canceladas, e os turistas do mundo inteiro estão preferindo ficar em casa.
O pavor se espalhou pela Europa. Os
londrinos foram alertados pelo chefe
de polícia sobre o caráter iminente e
inevitável de um ataque à cidade. Os
italianos se consideram o novo alvo da
retaliação do terror, o que levou o governo a dobrar o número de seguranças que vigiam as cidades. Na França,
2.500 policiais e 600 soldados adicionais estão fazendo patrulhamento ostensivo de estações de trens, metrô,
aeroportos, museus, cinemas, igrejas e
lojas de departamentos. Enfim, a Europa está em pé de guerra contra um
inimigo desconhecido e que ninguém
sabe onde e como atacará.
Sim, porque a inteligência do mal
que em 2001 arrasou o símbolo do capitalismo da América retalhou agora a
Espanha, como "troco" pelo seu alinhamento com os EUA no Iraque.
Quais serão os alvos amanhã? Na cidade ou no campo? No transporte ou nas
fontes de energia? Nas indústrias estratégicas ou nos locais de lazer?
O combate ao terrorismo -por
mais necessário que seja- é uma tarefa inglória pelo simples fato de esse
tipo de agressão contrariar a razão humana. São pessoas que se dispõem a
morrer em favor de uma causa considerada mais alta.
A sociedade moderna foi construída
sob o pressuposto de que os seres humanos mantêm vivo o instinto de preservação da vida.
Mas com os terroristas é diferente.
Eles são propelidos pelo prazer em
morrer. Quanto mais importante é o
alvo, mais gloriosa é a morte. Por isso,
tudo é pensado com muita cautela e
rigoroso raciocínio.
No caso da Espanha, os terroristas
espalharam por várias partes do país e
do exterior as provas necessárias para
absolver o ETA, tudo indicando que a
autoria é mesmo da Al Qaeda de Osama bin Laden. Ou seja, o mundo virou
refém da inteligência destruidora de
mentes doentes para os nossos padrões e sadias para a filosofia do suicídio salvacionista. Como reverter essa
lógica? Por enquanto, o que nos resta é
rezar.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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