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CARLOS HEITOR CONY
A arca de Noé
RIO DE JANEIRO - A atual histeria contra o PT, embora justificada pelos
recentes episódios de corrupção e pela estagnação do governo presidido
pelo partido, não deixa de ser exagerada e, de certo modo, imerecida.
Afinal, o PT marcou-se no passado
por espalhafatosa histeria moralizante, cultivando a imagem de vestal, de corpo estranho aos mil acidentes da carne política. Julgava-se espírito puro, ideal imaculado.
Um ou outro caso duvidoso que
surgia na vida partidária, envolvendo a antiga, tradicional e irrecuperável natureza humana, era prontamente abafado pela necessidade de
ter um justo na face da Terra que merecesse ser salvo na arca de Noé. Por
conta própria, os petistas julgavam e
obrigavam os outros a julgar que somente o partido da estrela vermelha
merecia sobreviver ao dilúvio.
As revelações de agora demonstram que o PT era e continua sendo
um partido como os outros, pregando
uma coisa e fazendo outra. E, em matéria de compostura pessoal e cívica,
com elementos bons e maus, do mesmo modo que todos os partidos.
Contudo a arrogância petista está
dando margem a uma generalização
injusta e desproporcional. Tanto José
Dirceu como o ministro Palocci estão
sendo acusados à exaustão pelo fato
de terem ou manterem assessores e
amigos que se aproveitavam da parcela de poder adquirida para atos de
improbidade explícita.
Compreende-se a tática política dos
adversários do PT em derrubar os
mitos criados em torno de Lula e de
seus adeptos. Mas não se pode levar a
sério as acusações que pretendem
atingir pessoalmente os dois ministros, que formam o núcleo de um governo desorientado.
Devemos criticar a falta de preparo
técnico e político da turma principal
que está no poder. Mas a acusação
genérica de pilantragem é, além de
absurda, estupidamente burra.
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