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Nódoa na Bolsa
CVM deve agir com rapidez para apurar suspeita de privilégio na negociação de ações da petroquímica Ipiranga
OS INDÍCIOS de irregularidades na negociação
de ações de empresas
do grupo Ipiranga são
preocupantes. Na sexta-feira anterior ao anúncio de sua compra
pelas companhias Petrobras, Ultra e Braskem por mais de R$ 8
bilhões, as ações ordinárias (com
direito a voto) da Distribuidora
de Produtos de Petróleo Ipiranga, por exemplo, observaram
uma valorização de 33%.
A magnitude
da alta deflagrou
na CVM (Comissão de Valores Mobiliários,
cuja função é fiscalizar os mercados) a suspeita de que a valorização dos papéis tenha sido
ocasionada por
uso indevido de
informação privilegiada. Transações como essas, que propiciam grandes lucros a poucos
agentes, são tão antigas quanto o
mercado de capitais e por tudo
danosas para sua confiabilidade.
A suspeita não poderia vir em
pior hora. A Bovespa vive um
momento ímpar. Firma-se como
alternativa de capitalização para
empresas nacionais. Somente no
primeiro bimestre deste ano, nove companhias fizeram ofertas
públicas de ações que amealharam, ao todo, R$ 6,45 bilhões,
contra R$ 3,62 bilhões no mesmo período de 2006. Um crescimento de 78%.
As ações também atraem cada
vez mais o interesse de pequenos
poupadores, que procuram alternativas para diversificar o seu
patrimônio. No final dos anos
1990, as pessoas físicas representavam só 16% dos negociadores
da Bovespa. Hoje, a parcela atinge 24%. O interesse de aplicadores estrangeiros também aumenta: de uma participação de
21%, em 1994, evoluiu para 36%.
E pode se tornar ainda maior,
quando o Brasil alcançar o chamado "nível de investimento"
nas classificações de risco.
A CVM já iniciou uma investigação acerca do caso Ipiranga,
solicitando informações às empresas envolvidas. Todas negaram que seus executivos tenham negociado ações. Começa agora um lento processo de apuração, que enfrenta
as limitações estruturais de toda investigação feita pelo poder público
-da morosidade da
Justiça para conceder quebras de sigilo à dificuldade para obter informações de paraísos fiscais.
É crucial que o "xerife" do mercado se empenhe em abreviar ao
máximo a apuração e dar pronta
resposta aos investidores -distribuindo multas e punições pesadas, como a proibição de negociar valores, se for o caso. Se a
CVM não agir com firmeza, estará deixando de cumprir uma de
suas principais atribuições, a de
zelar pelo funcionamento correto e transparente do mercado de
ações numa etapa fundamental
de seu desenvolvimento.
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