São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

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Nódoa na Bolsa

CVM deve agir com rapidez para apurar suspeita de privilégio na negociação de ações da petroquímica Ipiranga

OS INDÍCIOS de irregularidades na negociação de ações de empresas do grupo Ipiranga são preocupantes. Na sexta-feira anterior ao anúncio de sua compra pelas companhias Petrobras, Ultra e Braskem por mais de R$ 8 bilhões, as ações ordinárias (com direito a voto) da Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga, por exemplo, observaram uma valorização de 33%.
A magnitude da alta deflagrou na CVM (Comissão de Valores Mobiliários, cuja função é fiscalizar os mercados) a suspeita de que a valorização dos papéis tenha sido ocasionada por uso indevido de informação privilegiada. Transações como essas, que propiciam grandes lucros a poucos agentes, são tão antigas quanto o mercado de capitais e por tudo danosas para sua confiabilidade.
A suspeita não poderia vir em pior hora. A Bovespa vive um momento ímpar. Firma-se como alternativa de capitalização para empresas nacionais. Somente no primeiro bimestre deste ano, nove companhias fizeram ofertas públicas de ações que amealharam, ao todo, R$ 6,45 bilhões, contra R$ 3,62 bilhões no mesmo período de 2006. Um crescimento de 78%.
As ações também atraem cada vez mais o interesse de pequenos poupadores, que procuram alternativas para diversificar o seu patrimônio. No final dos anos 1990, as pessoas físicas representavam só 16% dos negociadores da Bovespa. Hoje, a parcela atinge 24%. O interesse de aplicadores estrangeiros também aumenta: de uma participação de 21%, em 1994, evoluiu para 36%. E pode se tornar ainda maior, quando o Brasil alcançar o chamado "nível de investimento" nas classificações de risco.
A CVM já iniciou uma investigação acerca do caso Ipiranga, solicitando informações às empresas envolvidas. Todas negaram que seus executivos tenham negociado ações. Começa agora um lento processo de apuração, que enfrenta as limitações estruturais de toda investigação feita pelo poder público -da morosidade da Justiça para conceder quebras de sigilo à dificuldade para obter informações de paraísos fiscais.
É crucial que o "xerife" do mercado se empenhe em abreviar ao máximo a apuração e dar pronta resposta aos investidores -distribuindo multas e punições pesadas, como a proibição de negociar valores, se for o caso. Se a CVM não agir com firmeza, estará deixando de cumprir uma de suas principais atribuições, a de zelar pelo funcionamento correto e transparente do mercado de ações numa etapa fundamental de seu desenvolvimento.


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