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ELIANE CANTANHÊDE
Desordem na "Casa"
WASHINGTON - O Conselho Sul-Americano de Defesa desenhado
pelo ministro Nelson Jobim ontem,
nos Estados Unidos, está para a JID
(Junta Interamericana de Defesa)
assim como o Grupo do Rio está para a OEA (Organização dos Estados
Americanos).
O futuro conselho terá os países
da América do Sul, enquanto a JID
inclui todas as Américas. O Grupo
do Rio abrange a América Latina e o
Caribe, enquanto a OEA também
mete todas Américas, EUA à frente,
no mesmo bolo.
Ou seja: tanto o conselho articulado pelo Brasil quanto o Grupo do
Rio são tentativas de excluir os
EUA, potência que, onde quer que
esteja, estará sempre acima (muitíssimo acima) de todos os demais.
A OEA renasceu das cinzas como
foro de debate e solução da crise
Equador-Colômbia, mas ela e a JID
realmente faziam sentido num ambiente de Guerra Fria, com as Américas unidas contra um inimigo comum. Hoje, se tornam um tanto obsoletas num mundo que torce e se
contorce para que países emergentes -Brasil entre eles- saiam da
órbita da grande potência e conquistem um lugar político ao sol
num contexto multipolar.
"Pensar pequeno significa dependência, significa continuar pequeno. É preciso arrogância estratégica e a audácia do enfrentamento dos nossos problemas, com a
coesão dos países da região", disse
Jobim ontem em reunião da própria JID, que é vinculada à OEA.
Falou grosso, mas convém resgatar a máxima atribuída a Guarrincha: "Já acertou com o adversário?". E nem sempre o adversário
são os EUA, mas os próprios aliados. A tal União Sul-Americana ia
se chamar "Casa", virou "Unasul"
e... empacou. Muitos países, visões
de mundo, divergências e uma crise
de fronteiras no meio da confusão.
Falar em coesão e em Conselho
de Defesa pode ser bom. Mas não dá
para falar em nada disso sem botar
a "Casa" em pé. E em ordem.
elianec@uol.com.br
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