|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Debate engessado
Excessivo rigor na questão das candidaturas antecipadas contraria a natureza do processo político democrático
NÃO É SEGREDO para
ninguém que a inesgotável série de inaugurações das obras do
PAC -existentes ou ainda por
fazer- serve como palanque para a candidatura governista às
eleições presidenciais.
Do mesmo modo, o virtual
candidato do PSDB se envolve
em iniciativas de óbvio interesse
eleitoral -que vão da intensa
propaganda das realizações do
governo paulista na TV à recente
ampliação do número de beneficiados no programa Renda Cidadã, sem contar atividades menos
administrativas, como a observação de desfiles carnavalescos.
Recordem-se a esse propósito
as fotos de Dilma Rousseff e José
Serra presenciando as evoluções
do bloco Galo da Madrugada, no
Carnaval do Recife. Sem ser nenhuma carapuça, o adereço folclórico que envergaram na cabeça trazia, tácita, a mensagem inconfundível: são candidatos.
Há assim um componente de
formalismo, e outro de hipocrisia, nas reclamações da oposição
e nas interpretações da Justiça
Eleitoral quanto ao fato de se estar antecipando a campanha sucessória. Ainda que a legislação
em vigor deva ser cumprida, são
muitas e inevitáveis as frestas
que se abrem diante de determinações irrealistas e em última
análise contrárias à própria natureza da vida política.
Numa sociedade democrática,
não há como desejar que campanhas políticas tenham data para
começar. Se a legislação procura,
com razão, zelar para que a disputa entre candidatos se dê com
um mínimo de igualdade de condições, isso não implica que se
deva restringir o processo sucessório em função do calendário da
campanha oficial.
A existência de regras para o
período em que a disputa começa formalmente não significa
que tudo deva ser proibido nos
meses que a antecedem.
Com certeza, o abuso da máquina pública, com a arregimentação de servidores para atos políticos, ou o desvio de verbas oficiais para fins partidários, deve
ser coibido em qualquer ocasião.
Torna-se difícil, contudo, impedir que uma ministra participe
de eventos celebratórios ao lado
do presidente, ou que um governador acelere sua agenda de
inaugurações antes de desincompatibilizar-se do mandato.
Surgem, desse modo, subterfúgios ridículos de palanque, a que
se contrapõem intermitentes
iniciativas de punição -como a
multa de R$ 5.000 imposta pelo
TSE ao presidente Lula por ter
"interagido" com a plateia que
aclamava a candidatura Dilma
Rousseff, em inauguração no Rio
de Janeiro.
Dizer, como Lula fez naquela
ocasião, que não estava engajado
numa campanha em favor de
Dilma é de uma inverdade quase
cômica -e o eleitor sabe disso.
Sabe, também, das movimentações eleitorais da oposição.
Escolherá melhor quanto
maior a liberdade para o debate
-que formalismos de calendário
não devem engessar.
Próximo Texto: Editoriais: Duplo emprego
Índice
|