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RICARDO YOUNG
Fim da era nuclear?
A história tem muitas ironias. A mais recente?
A era nuclear poderá terminar em Fukushima, não muito
distante de onde começou:
Hiroshima e Nagasaki. Centenas de milhares de civis pereceram e confrontaram a humanidade com a possibilidade de sua extinção diante de
algum conflito bélico.
No entanto, desde o início,
as ameaças reais à vida no planeta decorreram da energia
nuclear usada para fins pacíficos, de usinas elétricas ou térmicas a equipamentos e artefatos de variados usos.
Impressiona-me ainda que,
a cada novo evento, a gravidade da ocorrência é maior que a
anterior, como se o ser humano duvidasse da sua própria
possibilidade de extinção.
Outra constatação: as falhas em cada acidente ocorrem mais em função da irresponsabilidade no manejo,
no monitoramento técnico e
na transparência das informações para a sociedade, do que,
propriamente pelo uso do material radiativo.
Em Tchernobil, em 1986,
problemas técnicos aliados à
imprudência dos engenheiros
resultaram no vazamento do
vapor de um reator que produziu uma explosão seguida de
incêndios e, finalmente, do
derretimento nuclear. A Europa jamais esquecerá as consequências sofridas.
O acidente com o césio 137,
ocorrido em Goiânia em 1987,
recebeu classificação de gravidade 5 pela escala internacional de acidentes nucleares, a
mesma nota dada ao vazamento em Fukushima.
De novo, a irresponsabilidade. Catadores da cidade entraram nas ruínas de um hospital abandonado e encontraram um cilindro de aço.
Ele foi recolhido como sucata e, na oficina de um deles,
desmontado, espalhando o
cloreto de césio que estava
dentro da cápsula.
Em poucas horas, algumas
já estavam mortas e 863 apresentam sequelas até hoje. O
bairro precisou ser isolado por
vários anos e milhares de pessoas em Goiânia tiveram que
ser examinadas regularmente.
Neste acidente do Japão, a
usina foi fortemente abalada
pelo terremoto e pelo tsunami.
No entanto o reator 4 já vinha
apresentando problemas sérios, não relatados pela concessionária à agência reguladora japonesa. Esse comportamento criou as condições
adequadas para a tragédia.
Os fatos em Fukushima nos
obrigam a refletir não apenas
sobre o uso da energia nuclear
mas também sobre as concessões privadas explorá-la.
Nesse caso, há um conflito
de interesses entre o objetivo
do negócio -o lucro- e o da
sociedade -o bem-estar.
Será possível ter qualidade
de vida quando a energia vem
de uma usina nuclear operada
por uma empresa que não segue, rigorosamente, os princípios da gestão socialmente
responsável?
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras
nesta coluna.
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