São Paulo, Domingo, 21 de Março de 1999
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Mãos à obra já!

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Façamos uma pergunta heróica para os dias atuais: e se o Brasil decidir crescer 4%, 5% ou 6% ao ano, haveria energia para isso? A resposta não é simples.
Infelizmente, o nosso país está atrasado no seu programa de expansão das fontes de energia. O blecaute recém-ocorrido deveria funcionar como uma lição para todos nós.
A região Sudeste, que é a mais pressionada por energia, dispõe de 44 MW de eletricidade para uma demanda que se aproxima dos 42 MW. Não é de estranhar que, nas horas de pico, o sistema fique sobrecarregado e possa desligar.
Como resolver esse problema se sabemos que a construção de usinas hidrelétricas é demorada e cara? Penso que há três alternativas bastante viáveis para ajudarmos a alavancar o problema energético, sem nos descuidarmos da hidreletricidade, quais sejam: o álcool, o gás e a educação.
1) O Brasil já conquistou a tecnologia do álcool. Trata-se de um combustível renovável, poupador de divisas, não-poluente e grande absorvedor de mão-de-obra, o que representa empregos para milhões de brasileiros. Fala-se muito em monocultura; todavia a área plantada para produção de açúcar e álcool representa apenas 10% do total da área agricultável brasileira.
O Proálcool não devia ter sido descontinuado. Mas sempre é hora de recomeçar. E esta hora é das mais críticas para reativar o programa. Está tudo nas nossas mãos.
2) O gasoduto Brasil-Bolívia está pronto. A implantação dos terminais a gás com co-geração de energia elétrica é extremamente atraente e sua instalação, bastante rápida. As usinas geradoras são bem mais simples do que as hidrelétricas e a tecnologia está disponível no Brasil.
3) A educação é um componente crucial no uso de energia. Tendo em vista que o petróleo, o carvão e a energia hidráulica são caros e demorados para se obter, é da maior importância educar a população para usar esses energéticos de maneira prudente.
As campanhas educativas no campo da energia têm sido intermitentes, quando a realidade pede uma atuação contínua que deveria começar, na verdade, nos bancos da escola de primeiro grau e terminar nos programas sociais da terceira idade.
O Brasil é um país de tudo ou nada. Quando ocorre um blecaute, fala-se logo em racionamento. Passados alguns dias, todos voltam ao esbanjamento.
As campanhas educativas sobre o uso racional de energéticos deveriam fazer parte de nosso cotidiano.
Tais assuntos precisam merecer, no mínimo, a mesma atenção que os meios de comunicação dispensam à Aids nos dias atuais.
Sem energia, o Brasil estará condenado à estagnação, mesmo depois de superados os problemas da crise atual e restabelecidas as condições de um crescimento acelerado.
Em resumo, a crise energética do Brasil é grave, mas tem solução. É só usarmos bem o álcool, o gás e a educação, além do enorme potencial hídrico.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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