São Paulo, Domingo, 21 de Março de 1999
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PAINEL DO LEITOR

Oscar

"Lendo a entrevista de Walter Salles (19/3), percebo que ele ainda não se deu conta da magnitude do seu filme "Central do Brasil".
O filme mostra um Brasil a que dificilmente estrangeiros têm acesso. Nada do claudicante futebol de Copa do Mundo. Nada de praias paradisíacas. Nenhum bumbum à vista ou os peitos siliconizados dos Carnavais.
Pelo contrário, Salles mostra um Brasil de interiores e verdades incondicionais e, mais do que isso, desperta o interesse dos espectadores estrangeiros em conhecer um Brasil real.
A arte imita a vida e a vida busca a verdade. Ainda que o interesse seja de caráter antropológico, não se viram índios ou a exuberante floresta amazônica, outro assunto de enorme interesse mundial.
Ao senhor Salles cabe, além de outros, o mérito da revelação desse Brasil aos olhos do mundo.
Eu espero que o filme vá além dos prêmios até agora obtidos, para que possamos coroar a singeleza e simplicidade deste povo que pode ensinar muito sobre solidariedade e fé.
Grande feito, senhor Salles."
Isabel Cristina dos Santos (São Paulo, SP)
"Até os americanos sabem que o Oscar é uma farsa, que tem o papel de difundir o jeito norte-americano de fazer cinema pelo resto do mundo, além de ajudar os seus filmes a arrecadarem bilheterias exorbitantes.
Vemos que os candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro estão ficando tão parecidos que chegam ao absurdo de terem personagens com o mesmo nome, são cheios de estereótipos, como crianças e final redentor, entre outros, que servem apenas para agradar os membros da academia, fora a publicidade, que é mais importante que a qualidade do filme.
Mesmo assim estamos parados, torcendo para que "Central do Brasil" ganhe o Oscar, quando já sabemos que esse prêmio já é de "A Vida É Bela"."
Leandro Luiz de Alencar Oliveira (São Paulo, SP)

Volta à realidade

"O blecaute conseguiu tirar de foco por alguns dias os assuntos importantes para a sociedade, bem como para o destino do país.
Acesas novamente as luzes, voltemos ao debate unilateral e monofásico: da crise econômica, do pacto federativo, do desemprego, do trabalho infantil e da falta de uma política educacional realista e verdadeira.
Com muita vontade política, busquemos outras explicações para o blecaute, já que essa piada do raio em Bauru foi de mau gosto."
Ricardo Quinteiro (Cataguases, MG)


Coerência

"Pode-se acusar o governo de tudo, menos de incoerência.
Para que Justiça do Trabalho se não vai haver mais trabalho ou emprego?"
Valmir Marques da Silva (Belo Horizonte, MG)

Oposição inconsequente

"Essa oposição inconsequente no Congresso precisa ter um fim.
Parece que a sua função é trabalhar contra o país. Ao prejudicar a aprovação da contribuição do funcionalismo público à Previdência, ficou o déficit. Contribuiu ainda para a crise cambial e, finalmente, para o retorno do fantasma da inflação.
Agora a oposição grita por gatilho e indexação. Depois de instituído o caos, fica mais fácil pôr a culpa no governo.
Essa oposição é um verdadeiro freio de mão para o Brasil."
Ricardo Ramiro (Catanduva, SP)

Discurso incompleto

"Ciência e tecnologia não tiveram lugar no discurso do ministro Bresser Pereira sobre "o novo rumo do Brasil" ("Tendências/Debates", 17/3), o que é no mínimo estranho para um ministro da Ciência e Tecnologia e presidente do CNPq.
Segundo ele, toda a crise se resolverá com ajustes fiscais, obediência às receitas do FMI, controle de juros, captação de investimentos etc.
Da próxima vez, gostaria de ouvir o ministro falando dos cortes de orçamento do governo FHC para bolsas de pós-graduação, viagens de cientistas para congressos e intercâmbios, auxílios financeiros à pesquisa, realização de reuniões científicas e publicação de periódicos nacionais, renovação das assinaturas de revistas para as bibliotecas universitárias, programas de desenvolvimento científico e tecnológico além de atrasos na liberação dos recursos aprovados pelo Pronex."
Etelvino Bechara (São Paulo, SP)

Trabalho infantil

"Quando criança, eu engraxava sapatos em uma das praças de minha cidade, como muitos meninos pobres daquela época. Consegui, então, aos 11 anos, trabalho de "boy" em um escritório. Passei a conviver com pessoas trabalhadoras e honradas que, às vezes, faziam o papel de segundo pai.
Não consegui me formar em Harvard ou Oxford, mas consegui concluir uma faculdade particular e me aposentar como gerente de um grande banco estatal, enquanto alguns daqueles meus amigos de infância acabaram tendo várias passagens pela polícia.
Hoje, diante da proibição do trabalho aos menores de 16 anos, me pergunto: neste país, onde não existe nenhum programa eficiente de assistência aos menores, não seria muito mais inteligente permitir o trabalho a partir dos 12 anos, desde que a criança frequentasse regularmente a escola, do que termos de construir penitenciárias para abrigá-las depois?"
Márcio Antonio Bonini (Ibitinga, SP)

Campo de concentração

"A situação em São Paulo é semelhante à de um campo de concentração.
Os policiais matam jovens indefesos ou organizam chacinas; os fiscais praticam chantagem e pressionam os comerciantes; os vereadores usam o cargo para, impunemente, se organizarem em máfias; deputados estaduais e federais usam a imunidade para matar e roubar os cofres públicos; a polícia mal paga parece desistir de suas funções e apura menos de 10% das ocorrências; a corrupção em todos os níveis da Previdência e da administração é assustadora; as cadeias são centros de produção de assassinos e bandidos; o Poder Judiciário, pela sua lentidão, não cumpre o seu papel social de punir o criminoso de maneira eficiente.
Os mais favorecidos fogem para o exterior. Os "prisioneiros" comuns permanecem. Só nos resta então arquitetar o plano de fuga?"
Antonio Henrique Amaral (São Paulo, SP)

Mãos à obra

"O ótimo artigo de Marcelo Coelho ("Por que você não aguenta mais um pouco?", 17/3) retrata bem a índole do brasileiro: passividade.
Chega de blecautes... de qualquer espécie."
Silvio Sam (São Paulo, SP)

Alternativa econômica

"A imprensa noticiou que o Ministério da Saúde vai gastar mais de R$ 274 mil na varredura de suas linhas telefônicas.
Essa enorme despesa não seria desnecessária se existisse a garantia de que todos os assuntos tratados por telefone nesse ministério o fossem de forma séria e honesta?"
Antônio Leonardo de A. Moura da Costa (Niterói, RJ)


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