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CARESTIA MONETÁRIA
O Comitê de Política Monetária do
BC reforçou sua postura conservadora e decidiu manter os juros básicos
em 18,5%. Também foi suspenso o
viés de baixa, que permitia ao presidente do BC baixar os juros antes da
próxima reunião do comitê. Três fatores serviram como justificativa da
medida: o cenário de risco externo, o
preço do petróleo e a decisão parcial
do STF em favor da correção de contas do FGTS que sofreram expurgos
nos planos econômicos de 87 e 91.
Essa decisão vem ao encontro das
declarações do presidente do BC, Armínio Fraga, nesta Folha. Fraga considera inevitável um certo conservadorismo na política de juros.
Pelo sistema de metas inflacionárias acertado com o FMI, a taxa de juros está relacionada à inflação. O déficit em conta corrente não causa
grande preocupação para o presidente do BC na medida em que não seja
financiado com capitais de curto prazo. Caso o déficit externo passe a não
ser sustentável, o próprio mercado se
encarregaria de promover uma desvalorização da moeda brasileira.
A sustentabilidade de tal cenário somente é possível se não ocorrerem
crises externas sérias. Caso contrário,
as correções cambiais poderiam
ameaçar as metas inflacionárias. Isso
faria o governo brasileiro elevar a taxa
de juros para contrabalançar os efeitos inflacionários da desvalorização,
mesmo já sendo alto o desemprego.
O cenário mostra as conquistas e os
limites da estratégia gradualista de
ajuste iniciada com a introdução do
câmbio flutuante no início de 99.
Embora o país tenha permanecido
algo vulnerável a crises externas, o
ajuste gradual evitou a ocorrência de
uma recessão mais violenta, como
ocorreu na Ásia em 1998. Mas também está impedindo uma recuperação mais contundente. Qualquer
ameaça interna ou externa à inflação
tem que ser vista com muita cautela
pelos técnicos.
Enfim, o gradualismo no ajuste externo sugere que ainda há na condução da política econômica um legado
dos mais de quatro anos de regime de
câmbio fixo. Por ainda dificultar muito a queda dos juros, o contraponto
da atual estratégia do governo é um
entrave a um crescimento econômico
mais vigoroso e constante.
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