São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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CARESTIA MONETÁRIA

O Comitê de Política Monetária do BC reforçou sua postura conservadora e decidiu manter os juros básicos em 18,5%. Também foi suspenso o viés de baixa, que permitia ao presidente do BC baixar os juros antes da próxima reunião do comitê. Três fatores serviram como justificativa da medida: o cenário de risco externo, o preço do petróleo e a decisão parcial do STF em favor da correção de contas do FGTS que sofreram expurgos nos planos econômicos de 87 e 91.
Essa decisão vem ao encontro das declarações do presidente do BC, Armínio Fraga, nesta Folha. Fraga considera inevitável um certo conservadorismo na política de juros.
Pelo sistema de metas inflacionárias acertado com o FMI, a taxa de juros está relacionada à inflação. O déficit em conta corrente não causa grande preocupação para o presidente do BC na medida em que não seja financiado com capitais de curto prazo. Caso o déficit externo passe a não ser sustentável, o próprio mercado se encarregaria de promover uma desvalorização da moeda brasileira.
A sustentabilidade de tal cenário somente é possível se não ocorrerem crises externas sérias. Caso contrário, as correções cambiais poderiam ameaçar as metas inflacionárias. Isso faria o governo brasileiro elevar a taxa de juros para contrabalançar os efeitos inflacionários da desvalorização, mesmo já sendo alto o desemprego.
O cenário mostra as conquistas e os limites da estratégia gradualista de ajuste iniciada com a introdução do câmbio flutuante no início de 99.
Embora o país tenha permanecido algo vulnerável a crises externas, o ajuste gradual evitou a ocorrência de uma recessão mais violenta, como ocorreu na Ásia em 1998. Mas também está impedindo uma recuperação mais contundente. Qualquer ameaça interna ou externa à inflação tem que ser vista com muita cautela pelos técnicos.
Enfim, o gradualismo no ajuste externo sugere que ainda há na condução da política econômica um legado dos mais de quatro anos de regime de câmbio fixo. Por ainda dificultar muito a queda dos juros, o contraponto da atual estratégia do governo é um entrave a um crescimento econômico mais vigoroso e constante.


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