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ESCOLAS PELA METADE
Em política, uma inauguração
vale mais do que anos e anos de
bom funcionamento. É esse o princípio que explica a situação de defasagem em que estão algumas das Fatecs (Faculdades de Tecnologia) paulistas. As Fatecs foram a menina-dos-olhos do governador Geraldo
Alckmin no decorrer da campanha
eleitoral de 2002.
Amplamente utilizadas no horário
eleitoral gratuito, essas instituições
de ensino superior, voltadas especificamente para a profissionalização,
de fato respondem a uma demanda
legítima da população que conclui o
segundo grau, mas não está disposta
ou não tem condições de acompanhar um curso universitário tradicional. E é verdade que vem crescendo
tanto a procura de jovens pelas Faculdades de Tecnologia quanto a do
mercado por tecnólogos. Das 17 Fatecs paulistas, três foram inauguradas neste ano, e cinco, em 2003.
Tamanho sucesso torna ainda
mais censurável a situação de abandono vivida por algumas unidades.
Como a reportagem da Folha pôde
constatar, na Fatec Zona Leste, em
São Paulo, os alunos têm de contentar-se apenas com aulas teóricas,
pois o laboratório com máquinas industriais ainda não foi instalado. No
campus de Sorocaba, o problema é a
defasagem tecnológica: o equipamento data dos anos 80. No mundo
real, são peças de museu.
A ênfase nas inaugurações é tamanha que, em seis unidades inauguradas a partir de 2002, o único curso
oferecido é o de informática, no qual
a necessidade de investimentos é
menor, limitando-se a uma sala com
alguns computadores.
A deficiência do material pedagógico, que já é um problema grave em
qualquer instituição, adquire proporções ainda piores em cursos de
tecnologia, nos quais a familiaridade
do aluno com os equipamentos que
utilizará é fundamental.
É justo que políticos possam desfrutar eleitoralmente de suas boas
iniciativas, mas é preciso que elas
funcionem permanentemente -e
não apenas para inaugurações.
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