São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCOLAS PELA METADE

Em política, uma inauguração vale mais do que anos e anos de bom funcionamento. É esse o princípio que explica a situação de defasagem em que estão algumas das Fatecs (Faculdades de Tecnologia) paulistas. As Fatecs foram a menina-dos-olhos do governador Geraldo Alckmin no decorrer da campanha eleitoral de 2002.
Amplamente utilizadas no horário eleitoral gratuito, essas instituições de ensino superior, voltadas especificamente para a profissionalização, de fato respondem a uma demanda legítima da população que conclui o segundo grau, mas não está disposta ou não tem condições de acompanhar um curso universitário tradicional. E é verdade que vem crescendo tanto a procura de jovens pelas Faculdades de Tecnologia quanto a do mercado por tecnólogos. Das 17 Fatecs paulistas, três foram inauguradas neste ano, e cinco, em 2003.
Tamanho sucesso torna ainda mais censurável a situação de abandono vivida por algumas unidades. Como a reportagem da Folha pôde constatar, na Fatec Zona Leste, em São Paulo, os alunos têm de contentar-se apenas com aulas teóricas, pois o laboratório com máquinas industriais ainda não foi instalado. No campus de Sorocaba, o problema é a defasagem tecnológica: o equipamento data dos anos 80. No mundo real, são peças de museu.
A ênfase nas inaugurações é tamanha que, em seis unidades inauguradas a partir de 2002, o único curso oferecido é o de informática, no qual a necessidade de investimentos é menor, limitando-se a uma sala com alguns computadores.
A deficiência do material pedagógico, que já é um problema grave em qualquer instituição, adquire proporções ainda piores em cursos de tecnologia, nos quais a familiaridade do aluno com os equipamentos que utilizará é fundamental.
É justo que políticos possam desfrutar eleitoralmente de suas boas iniciativas, mas é preciso que elas funcionem permanentemente -e não apenas para inaugurações.


Texto Anterior: Editoriais: CRISE LATINA
Próximo Texto: Bruxelas - Clóvis Rossi: Nem Ele
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.