Com menos de um mês de mandato, Gilberto Kassab (PFL) já dá sinais de ter sido contaminado pela gana obreira característica dos prefeitos paulistanos. Requisitou estudos para viabilizar a criação de um bulevar e de um parque municipal integrados ao pavilhão do Anhembi (zona norte da capital).
A intenção do prefeito é construir o bulevar na avenida Olavo Fontoura, que passa ao lado do pavilhão, e ocupar parte do Campo de Marte com o parque. Essa última etapa do projeto depende de acordos com a Aeronáutica, proprietária do terreno.
Ainda que "a priori" a criação de novos espaços públicos de lazer seja bem-vinda, é difícil sustentar a pertinência do projeto. Há, em primeiro lugar, problemas práticos que podem tornar a empreitada pouco interessante. A construção do bulevar, por exemplo, impediria a circulação de veículos na avenida Olavo Fontoura, criando problemas de tráfego.
Para além das dificuldades práticas do projeto, cabe perguntar se uma área que já tem um perfil razoavelmente definido de uso (convenções e eventos esporádicos) justifica tanto empenho e investimentos exatamente no momento em que estão sendo iniciados projetos de revitalização de áreas centrais da capital. Evidentemente, o mais lógico seria dar prioridade a iniciativas como a que visa à recuperação da região da Luz.
A iniciativa de Kassab reflete cacoete comum aos prefeitos de São Paulo. Em maior ou menor grau, e muitas vezes sacrificando a necessária continuidade nas intervenções urbanas, as gestões se esforçam por deixar sua marca através de obras esparsas. Exemplo recente foi a proposta felizmente abortada do ex-prefeito e pré-candidato a governador José Serra (PSDB) de derrubar o minhocão.
Seria um avanço se a administração fizesse cumprir as determinações em normas como o Plano Diretor e desse prosseguimento aos projetos de recuperação urbana já em curso.


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