São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Cúmplices

SÃO PAULO - Não entendo a surpresa com as seguidas absolvições de deputados pelos seus pares. Com uma dúzia de exceções, que deveriam ser mais valorizadas aliás, são todos cúmplices, do que dá prova uma leve rememoração de quem os parlamentares elegeram para chefiá-los na legislatura em curso.
O atual presidente, Aldo Rebelo, foi coordenador político do governo Lula enquanto operava uma "organização criminosa", conforme a denúncia do procurador-geral. Não percebeu nada, nadica. Seu antecessor, Severino Cavalcanti, desertou do mandato para não ser cassado. É o estadista dos bêbados infratores, cuja libertação se orgulha de obter.
O primeiro presidente da atual legislatura, João Paulo Cunha, tem sua folha corrida exposta na já citada denúncia do procurador-geral a respeito da "quadrilha".
Mas, antes, foi o orgulhoso autor da contratação sem concurso de 1.960 funcionários (os Cargos de Natureza Especial), ao custo de R$ 97 milhões/ ano aos cofres públicos. São funcionários que, na prática, deputados utilizam para fazer trabalho proselitista nas suas bases.
Denunciado o trambique pela Folha, o então presidente, em vez de corrigir-se, defendeu a maracutaia com todas as suas energias. Quando perguntei se haveria lugar para todos na Câmara, na duvidosa hipótese de que todos comparecessem simultaneamente ao trabalho, João Paulo admitiu que não haveria. Mas continuou defendendo a imoralidade.
Foi, de alguma maneira, precursor no comportamento sem vergonha de boa parte do lulo-petismo.
Sua cassação, por falta de decoro, já se justificaria quando era presidente, só por esse fato, inaceitável em qualquer país sério.
No Brasil, no entanto, essa indecência ajudou a absolvê-lo, porque comprara a boa vontade de muitíssimos de seus pares com esse tipo de favor político com o dinheiro público.
Quem elege para ter como chefe esse tipo de gente tem lá moral para cassar quem quer que seja?

@ - crossi@uol.com.br


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