São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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Editoriais

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A escola perplexa

NÃO FALTAM estudos apontando que o ensino médio se encontra numa encruzilhada no Brasil. Mais um acaba de surgir, realizado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Registra que um em cada cinco jovens entre 15 e 17 anos -a idade-alvo do antigo segundo grau- abandona a escola na Grande São Paulo. É o maior índice entre as seis regiões metropolitanas avaliadas.
Ao contrário do que muitos podem pensar, os jovens não deixam as salas de aula só porque precisam trabalhar. O motivo central apontado para justificar a defecção é a falta de interesse pela escola. Não basta, portanto, construir salas de aula ou criar bolsas para manter os jovens na escola -é preciso reformá-la em sentido ainda mais profundo.
Claro está que um ensino mais técnico e profissionalizante cumpriria em parte esse papel, sendo mais atrativo aos olhos do aluno que procura sobretudo inserção no mercado de trabalho. Mas a ênfase utilitarista nos currículos tampouco vai diminuir o fosso que afasta os jovens da escola.
Educação não é só treinamento, mas uma janela para o universo da cultura, ciência incluída. Professores e alunos, contudo, falam cada vez mais línguas diferentes. A percepção desse fenômeno é refletida em filmes como o francês "Entre os Muros da Escola", de Laurent Cantet, e o brasileiro "Pro Dia Nascer Feliz", de João Jardim.
Mesmo quando há disposição para um reencontro de mestres e alunos em torno do saber, falta-lhes um repertório comum. O divórcio crescente só será contido com inovação, começando pelo uso mais intensivo das tecnologias digitais, que tanto atraem os adolescentes. Mas os educadores precisam reinventar-se como tradutores da melhor cultura para uma linguagem que seus alunos entendam e apreciem.


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