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Editoriais
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A escola perplexa
NÃO FALTAM estudos apontando que o ensino médio
se encontra numa encruzilhada no Brasil. Mais um acaba
de surgir, realizado pelo Centro
de Políticas Sociais da Fundação
Getúlio Vargas. Registra que um
em cada cinco jovens entre 15 e
17 anos -a idade-alvo do antigo
segundo grau- abandona a escola na Grande São Paulo. É o
maior índice entre as seis regiões
metropolitanas avaliadas.
Ao contrário do que muitos podem pensar, os jovens não deixam as salas de aula só porque
precisam trabalhar. O motivo
central apontado para justificar
a defecção é a falta de interesse
pela escola. Não basta, portanto,
construir salas de aula ou criar
bolsas para manter os jovens na
escola -é preciso reformá-la em
sentido ainda mais profundo.
Claro está que um ensino mais
técnico e profissionalizante
cumpriria em parte esse papel,
sendo mais atrativo aos olhos do
aluno que procura sobretudo inserção no mercado de trabalho.
Mas a ênfase utilitarista nos currículos tampouco vai diminuir o
fosso que afasta os jovens da escola.
Educação não é só treinamento, mas uma janela para o universo da cultura, ciência incluída.
Professores e alunos, contudo,
falam cada vez mais línguas diferentes. A percepção desse fenômeno é refletida em filmes como
o francês "Entre os Muros da Escola", de Laurent Cantet, e o brasileiro "Pro Dia Nascer Feliz", de
João Jardim.
Mesmo quando há disposição
para um reencontro de mestres e
alunos em torno do saber, falta-lhes um repertório comum. O divórcio crescente só será contido
com inovação, começando pelo
uso mais intensivo das tecnologias digitais, que tanto atraem os
adolescentes. Mas os educadores
precisam reinventar-se como
tradutores da melhor cultura para uma linguagem que seus alunos entendam e apreciem.
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