São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

Próxima parada: nossa cidade

JOSÉ LUIZ PORTELLA PEREIRA


O plano de expansão do metrô de SP é uma resposta do tamanho da nossa região metropolitana para resolver o problema da mobilidade


O PLANO DE expansão dos transportes metropolitanos do Estado de São Paulo vai muito além do transporte. Ele vai permitir que os brasileiros de São Paulo tenham uma cidade tão disponível quanto Londres e Paris.
A expansão dos transportes metropolitanos não irá só diminuir o tempo de trajeto entre origem e destino.
Muito mais do que isso, vai colocar a cidade à mão, possibilitando que todos cheguem aonde quiserem sem medo, com rapidez e facilidade, tendo como grande atração o incentivo à bicicleta.
O Expansão SP tem quatro vertentes: transporte, economia, cultura e social. A vertente social é esta: São Paulo toma posse de São Paulo.
Ao lado da nova rede com qualidade de metrô, que terá 240 km já em 2010, num tempo recorde, e cerca de 420 km em 2014, estamos colocando estacionamentos, ciclovias, bicicletários, pontos de táxi e terminais de ônibus sob o mesmo teto.
Assim, grande parte da população vai poder sair da origem e se deslocar até a estação mais próxima por esses modais, para pegar o metrô a uma distância razoável.
Quem mora na Cantareira, que tem ambiente e clima de serra, vai poder chegar à estação mais próxima de Guarapiranga num dia de sol e, de bicicleta emprestada gratuitamente, ou de ônibus, ou de táxi, ter acesso à represa onde se praticam esportes náuticos. E vice-versa. Se pensarmos em todos os trajetos possíveis, onde se localizam os serviços e atrações, com gente se deslocando com rapidez e segurança, evitando o carro em longos percursos, teremos uma nova relação com a cidade. Hoje, somos como proprietários sem posse.
A revolução é a reintegração de posse.
A redução no tempo de viagem já está ocorrendo, e de modo substancial, nos lugares em que a qualidade de metrô já chegou.
Um senhor de 45 anos, de Grajaú, onde inauguramos a estação em 2008, aguardada há anos, respondendo a uma pesquisa, disse que está ganhando quase duas horas por dia. Está aproveitando o tempo para estudar e pensa em adquirir condições para ganhar mais.
Os jovens, quase todos, estão usando o tempo ganho para dormir mais.
E, às vezes, para namorar.
O tempo gasto antes roubava horas de sono. Em Sacomã, pais de crianças que estão no primeiro grau utilizam o tempo conquistado ajudando os filhos nos deveres escolares.
Todos estão felizes porque têm tempo para acompanhar o crescimento dos filhos sem que seja preciso deixar um nó no lençol, como fazia um pai que saía e voltava de casa com os filhos dormindo, para que eles vissem, quando acordassem, que o pai havia passado por lá.
Na vertente cultural, além de eventos, cafés e poesia, contaremos a história de nossos bairros em 16 estações, ou seja, a história da nossa cidade. Somos referência mundial e poucos sabem como São Paulo se formou. O plano de expansão é uma resposta ousada e do tamanho da nossa região metropolitana para resolver o grave problema da mobilidade. Vamos nos locomover mais tranquilos.
Em 40 anos, construímos 60 km de linhas com qualidade de metrô, média de 1,5 km por ano. É muito pouco.
O Expansão SP veio para alterar a inflexão dessa curva de oferta de transporte e, sobretudo, para assegurá-la, mostrando que é possível fazer metrô em tempo curto, de modo a nunca mais recuarmos.
Hoje, a maior parte das metas, de forma significativa, está claramente dentro dos prazos, assegurando que o fundamental seja atendido conforme foi estipulado.
Não é um plano de um homem, de um partido, de um governo, é um projeto de São Paulo. De todos os brasileiros que vivem em São Paulo. Também é do Brasil, pois, ao instalar novas fábricas de trens e ativar a produção nacional de equipamentos, o plano abre a perspectiva para a implantação de metrô nas nossas grandes cidades, todas já com o vírus da falta de mobilidade.
Cabe a todos consolidá-lo, porque é um patrimônio da sociedade.
Cobrar o poder público é tarefa fundamental. Porém, tratando-se de patrimônio tão valioso, cabe conhecê-lo profundamente, dominá-lo nos detalhes, para saber quais são os verdadeiros obstáculos que dificultam sua continuidade.
Muitas vezes não é o governo o responsável por possíveis atrasos, e o real causador fica incólume. Contudo, o rigor da cobrança não pode levar a uma visão negativista, que remete todos os gestores públicos a um mesmo patamar de descrença.
O Expansão SP veio para mostrar que é possível fazer as coisas acontecerem. E para tornar irreversível uma nova qualidade de vida.
Ele já está mudando a vida da gente.
Vai mudar ainda mais.


JOSÉ LUIZ PORTELLA PEREIRA, 57, engenheiro, é secretário estadual dos Transportes Metropolitanos de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior: Frases

Próximo Texto: Roberto Livianu: Pelo Brasil que Tiradentes sonhou

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.