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FALATÓRIO
Jornais de ontem estampavam
uma curiosa previsão sobre o
comportamento do Banco Central
na reunião mensal do Comitê de Política Monetária que ora se realiza: o
BC não mexeria na taxa básica de juros como forma de demonstrar sua
autonomia diante das fortes pressões para que a reduza.
Nos últimos dias, funcionários do
banco pediram "paciência", e o presidente da instituição, Henrique Meirelles, em mais uma de suas frequentes declarações, alertou para os riscos da persistência da inflação. A
quem se dirigiam? Certamente não
apenas aos setores da sociedade que
vêm manifestando a convicção de
que a taxa, a esta altura, deveria cair
mas também ao "fogo amigo" disparado por integrantes do próprio
governo e economistas aliados.
Se é ridícula a idéia de o Banco Central pautar suas decisões pela preocupação de estar ou não cedendo a
pressões, é verdade que o falatório
nos arraiais do governo contribui para criar um ambiente de desentendimento e relativa desorientação na
área econômica. O vice-presidente
classifica os juros vigentes de "assalto" (com certa propriedade, diga-se),
o senador Aloizio Mercadante prega
a intervenção no câmbio e a professora Maria da Conceição Tavares dirige sua famosa metralhadora verbal
para a Fazenda e seus assessores.
É certo que a divergência é inerente
ao processo democrático -e é sempre preferível a multiplicidade de
opiniões ao monolitismo dogmático. A tagarelice, no entanto, tratando-se de área extremamente sensível
como a economia, parece menos recomendável como conduta de governo do que a sobriedade.
O presidente Lula tem reiterado
que cabe ao ministro da Fazenda e ao
presidente do BC a palavra oficial sobre as ações econômicas. Esgotando-se, no entanto, a necessária fase
inicial de medidas ortodoxas, o que
se depreende dos constantes embates públicos entre figuras do governo
é que o Planalto ainda não conseguiu
conquistar, nem sequer entre os
seus, a necessária confiança quanto à
evolução da política econômica.
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