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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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FALATÓRIO

Jornais de ontem estampavam uma curiosa previsão sobre o comportamento do Banco Central na reunião mensal do Comitê de Política Monetária que ora se realiza: o BC não mexeria na taxa básica de juros como forma de demonstrar sua autonomia diante das fortes pressões para que a reduza.
Nos últimos dias, funcionários do banco pediram "paciência", e o presidente da instituição, Henrique Meirelles, em mais uma de suas frequentes declarações, alertou para os riscos da persistência da inflação. A quem se dirigiam? Certamente não apenas aos setores da sociedade que vêm manifestando a convicção de que a taxa, a esta altura, deveria cair mas também ao "fogo amigo" disparado por integrantes do próprio governo e economistas aliados.
Se é ridícula a idéia de o Banco Central pautar suas decisões pela preocupação de estar ou não cedendo a pressões, é verdade que o falatório nos arraiais do governo contribui para criar um ambiente de desentendimento e relativa desorientação na área econômica. O vice-presidente classifica os juros vigentes de "assalto" (com certa propriedade, diga-se), o senador Aloizio Mercadante prega a intervenção no câmbio e a professora Maria da Conceição Tavares dirige sua famosa metralhadora verbal para a Fazenda e seus assessores.
É certo que a divergência é inerente ao processo democrático -e é sempre preferível a multiplicidade de opiniões ao monolitismo dogmático. A tagarelice, no entanto, tratando-se de área extremamente sensível como a economia, parece menos recomendável como conduta de governo do que a sobriedade.
O presidente Lula tem reiterado que cabe ao ministro da Fazenda e ao presidente do BC a palavra oficial sobre as ações econômicas. Esgotando-se, no entanto, a necessária fase inicial de medidas ortodoxas, o que se depreende dos constantes embates públicos entre figuras do governo é que o Planalto ainda não conseguiu conquistar, nem sequer entre os seus, a necessária confiança quanto à evolução da política econômica.


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