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CLÓVIS ROSSI
Velha nova agenda ou vice-versa
SÃO PAULO - Tal como relatado neste espaço na semana passada, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, achava que a verdadeira agenda do governo Lula estaria configurada pelo PPA (Plano Plurianual),
no caso válido para 2004/07.
Bom, a versão preliminar saiu e, de
fato, volta, por fim, à linguagem do
velho PT. Diz, por exemplo:
"Os problemas fundamentais a serem enfrentados são a concentração
de renda e riqueza, a exclusão social,
a baixa criação de emprego e as barreiras para a transformação dos ganhos de produtividade em aumento
de rendimentos da grande maioria
das famílias trabalhadoras".
Alguém aí discorda? Claro que o
documento dá ênfase também à estabilidade, o que é óbvio: governo algum pode defender a instabilidade
macroeconômica. Pode, sim, errar
nos instrumentos para atingir a estabilidade e/ou para mantê-la.
O trecho acima reproduzido é um
contraste total, quase brutal, com a
ênfase que o governo do PT vem colocando, desde a posse, em câmbio, risco-país, superávit fiscal, juros altos
-como se esses fossem os verdadeiros e únicos problemas da pátria.
É claro que o documento anteontem divulgado é genérico, retórico,
vago. Mesmo assim, aponta uma
porção de direções corretas, fala em
política industrial e devolve, em tese,
ao Estado "um papel decisivo, como
condutor do desenvolvimento social e
regional e como indutor do crescimento econômico".
Resta saber se a nova/velha agenda
do PT será, como apostava Mantega,
capaz de sobrepor-se à discussão meramente financeira em que o governo
atolou desde a posse. E, claro, se todo
o conjunto de boas intenções se materializará de fato ou ficará como mais
um monumento à retórica.
Mais importante: nas condições
atuais de juros e superávit fiscal, o
PPA pode ser esquecido. Será apenas,
como dizem os argentinos, um "saludo a la bandera", uma homenagem
póstuma da virtude ao vício.
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