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CARLOS HEITOR CONY
Época dos tristes
RIO DE JANEIRO - A tristeza está sempre fora de moda. Os tristes nunca estão com nada, são até discriminados social e politicamente. O que
conta, para o grosso da manada humana, é a alegria, o entusiasmo, até
mesmo a exaltação. Mas, se analisarmos a história, veremos que não foram os gritos de festa do Coliseu romano nem os brados da multidão
que derrubou a Bastilha os momentos importantes da travessia do homem ao longo dos séculos.
E não apenas no plano coletivo. Um
Carnaval nunca gerou nada que
prestasse, a alegria é efêmera e geralmente mal informada. As cinzas ali
estão, à espera do folião que inapelavelmente despertará numa quarta-feira. Tristeza não tem fim, cantava o
poeta.
No plano pessoal, descobrimos que
os momentos mais alegres foram até
certo ponto estéreis. Por mais naturais que tenham sido, a nada nos levaram. Foram compensações, tréguas muitas vezes merecidas, parte
do imenso legado da miséria humana, aquela que Brás Cubas não quis
deixar para seus descendentes.
Já a tristeza é boa conselheira. Chorar no travesseiro pode ser uma imagem sovada, mas ajuda a mergulhar
em nós mesmos. E, sendo a tristeza
uma falha na imagem que todos pretendemos dar aos outros, ela acaba
sendo o asilo de nós mesmos, onde
podemos tudo a que temos direito.
Bem, desconfio de que esta crônica
tenha saído pessimista como o Diabo.
Citei Machado de Assis, que deixou
fama de rabugento, mas foi o maior
gozador de nossa história, o que mais
nitidamente viu aquilo que Balzac
chamou de comédia. Apesar disso, o
título que dei a este malvado texto,
"Época dos tristes", nada tem de Machado e Balzac. É uma homenagem a
Sylvan Paezzo, que tem um romance
assim intitulado, publicado nos velhos tempos da editora Civilização
Brasileira do Ênio Silveira. Os dois já
morreram. Deixaram uma imagem
de homens alegres e até mesmo jucundos.
Mas nem o Sombra saberia a tristeza que se escondia no coração deles.
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