São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Dólar barato

Medidas de desoneração tributária e de estímulo à inovação são preferíveis em relação à elevação das barreiras às importações

A QUEDA rápida da cotação do dólar no mercado brasileiro, observada na semana passada, é um fato novo que modifica a discussão sobre a política econômica. Muitos analistas apontavam a possibilidade de uma apreciação adicional da moeda brasileira ao longo dos próximos meses, mas não na velocidade observada: quase 3% em uma única semana.
Não há consenso quanto às causas do movimento abrupto. Discutem-se, entre outras hipóteses, que ele tenha se devido a uma ação mais tímida do Banco Central no mercado de câmbio, ou ao fato de que agências de classificação de risco melhoraram a "nota" que atribuem ao Brasil antes do que muitos esperavam -o que ajudou a reduzir o risco-país a nível inédito.
Mais importante do que precisar as causas, porém, é explorar as possíveis implicações do movimento. Uma primeira é que a cotação ter chegado a valor inferior a R$ 2,00, nível que era visto como uma barreira que o BC se empenhava em defender, pode estimular um reforço das apostas na valorização do real.
Não surpreende, portanto, que as autoridades tenham voltado a acenar com medidas para amortecer o impacto da apreciação sobre aqueles setores produtivos para os quais o rápido aumento dos custos, medidos em dólares, representa fator relevante de perda de competitividade.
Medidas desse tipo têm sido cogitadas há tempos, mas poucas foram efetivadas. Seria desejável que das palavras se passasse logo à ação. Também seria desejável -resguardadas as especificidades de cada setor- que medidas de desoneração tributária, de melhora das condições de financiamento e de estímulo à inovação recebessem prioridade em relação à elevação das barreiras às importações.
Esta elevação, além de sacrificar os consumidores, privando-os de preços mais baixos, representa um elemento adicional a inibir a demanda por dólares -e reforça o desequilíbrio entre essa demanda e a farta oferta que tem conduzido à queda da cotação da moeda americana no país.
Isso não significa subscrever as sugestões, que voltaram a circular com mais força, de redução agressiva e generalizada das tarifas de importação -para acelerar a abertura da economia e a demanda por dólares.
A apreciação do real já está estimulando um nítido aumento da entrada dos produtos importados no mercado brasileiro. Sobrepor a essa pressão uma redução rápida e unilateral da proteção tarifária significaria colocar em risco, desnecessariamente, a sobrevivência de empresas e mesmo de setores da economia.
O que mais do que nunca cabe acelerar é o corte da taxa de juros básica. O mercado financeiro já incorpora essa perspectiva nos contratos futuros. O dólar mais barato aponta para uma inflação ainda mais baixa. Não há por que deixar de tirar proveito.


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