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Dólar barato
Medidas de desoneração tributária e de estímulo à inovação são preferíveis em relação à elevação das barreiras às importações
A
QUEDA rápida da cotação do dólar no mercado brasileiro, observada na semana passada,
é um fato novo que modifica a
discussão sobre a política econômica. Muitos analistas apontavam a possibilidade de uma
apreciação adicional da moeda
brasileira ao longo dos próximos
meses, mas não na velocidade
observada: quase 3% em uma
única semana.
Não há consenso quanto às
causas do movimento abrupto.
Discutem-se, entre outras hipóteses, que ele tenha se devido a
uma ação mais tímida do Banco
Central no mercado de câmbio,
ou ao fato de que agências de
classificação de risco melhoraram a "nota" que atribuem ao
Brasil antes do que muitos esperavam -o que ajudou a reduzir o
risco-país a nível inédito.
Mais importante do que precisar as causas, porém, é explorar
as possíveis implicações do movimento. Uma primeira é que a
cotação ter chegado a valor inferior a R$ 2,00, nível que era visto
como uma barreira que o BC se
empenhava em defender, pode
estimular um reforço das apostas na valorização do real.
Não surpreende, portanto, que
as autoridades tenham voltado a
acenar com medidas para amortecer o impacto da apreciação sobre aqueles setores produtivos
para os quais o rápido aumento
dos custos, medidos em dólares,
representa fator relevante de
perda de competitividade.
Medidas desse tipo têm sido
cogitadas há tempos, mas poucas
foram efetivadas. Seria desejável
que das palavras se passasse logo
à ação. Também seria desejável
-resguardadas as especificidades de cada setor- que medidas
de desoneração tributária, de
melhora das condições de financiamento e de estímulo à inovação recebessem prioridade em
relação à elevação das barreiras
às importações.
Esta elevação, além de sacrificar os consumidores, privando-os de preços mais baixos, representa um elemento adicional a
inibir a demanda por dólares -e
reforça o desequilíbrio entre essa demanda e a farta oferta que
tem conduzido à queda da cotação da moeda americana no país.
Isso não significa subscrever as
sugestões, que voltaram a circular com mais força, de redução
agressiva e generalizada das tarifas de importação -para acelerar a abertura da economia e a
demanda por dólares.
A apreciação do real já está estimulando um nítido aumento
da entrada dos produtos importados no mercado brasileiro. Sobrepor a essa pressão uma redução rápida e unilateral da proteção tarifária significaria colocar
em risco, desnecessariamente, a
sobrevivência de empresas e
mesmo de setores da economia.
O que mais do que nunca cabe
acelerar é o corte da taxa de juros
básica. O mercado financeiro já
incorpora essa perspectiva nos
contratos futuros. O dólar mais
barato aponta para uma inflação
ainda mais baixa. Não há por que
deixar de tirar proveito.
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