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ALBA ZALUAR
Em defesa
da vida
A PRIORIDADE hoje no Brasil
é, sem dúvida, a defesa da vida. O quadro é grave. Entre
1997 e 2004, de 40 mil a 50 mil pessoas morreram por ano de morte
matada, totalizando 367.636 homicídios em oito anos.
Em 2004, com uma taxa de 20,7
mortes por armas de fogo em cada
100 mil habitantes, o Brasil só perdia para a Venezuela. Mas, considerando apenas as mortes de jovens, com a taxa de 43,1 jovens
mortos em cada 100 mil, o Brasil já
era o líder de 65 países do mundo.
Em 1980, 52% das mortes de jovens no Brasil eram devidas à violência; em 2002, este percentual já
era de 72%, sendo 40% das mortes
devidas a homicídios.
Há ainda a dor psíquica e as mutilações físicas dos que continuaram a viver, vítimas também desse
tsunami da insegurança pública
que já dura três décadas no país.
Da violência estabelecida, o
maior agravo é o dos desabilitados
fisicamente que oneram a saúde
pública e o orçamento familiar. Paraplégicos e tetraplégicos têm uma
única esperança de recuperar suas
habilidades e independência motora, auto-estima e vida plena: as
pesquisas com células-tronco.
Tais pesquisas só podem utilizar
embriões há mais de três anos congelados, quando tinham menos de
14 dias de fecundação. Esse uso depende do consentimento dos doadores das células usadas na fecundação, as quais teriam como destino certo o esquecimento, a inutilidade, o lixo, mesmo contendo uma
semente de vida.
Que melhor uso poderia se dar a
essas sementes do que recuperar a
vida mutilada de tantas vítimas da
violência de nossas estradas, ruas,
armas e emoções descontroladas?
Pode-se, em nome da vida destinada ao nada, negar vida plena aos
que, por terem plena consciência
das suas deficiências, sofrem duplamente a mutilação?
Há uma questão moral que é
pensada diferentemente na população brasileira. Os progenitores
católicos ou crentes, contrários ao
uso de embriões em pesquisas
científicas, poderão impedir que os
embriões produzidos por eles ou
alguém de suas famílias sejam usados dessa maneira. Mas não seria
justo, nem sensato, nem respeitador da pluralidade fazer com que
todos os cidadãos brasileiros fiquem proibidos de ajudar na pesquisa que poderia melhorar a vida
dos que já entendem e penam pelas
perdas sofridas, dos que já andaram um dia e não andam mais.
Estado e igreja foram separados
há décadas e suas razões não podem ser confundidas. O Estado
brasileiro representa a todos, não
apenas aqueles que consideram o
momento da fecundação como o
início da vida sagrada. Para muitos,
o imperativo é diminuir o sofrimento de quem está entre nós, e
que ainda tem uma esperança.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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