São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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PLÍNIO FRAGA

Dormente em obra esplêndida

RIO DE JANEIRO - A história só se repete como farsa, mas há os farsantes que se repetem na história, como forma de debochar do dito marxista. O colunista Janio de Freitas lembrava ontem a coincidência de o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares ter sido preso na semana em que se completava 20 anos da revelação da fraude da ferrovia Norte-Sul.
Batizada como aquela que ligaria o nada ao lugar nenhum, a ferrovia previa obras de US$ 2,5 bilhões, sob o guarda-chuva de Tavares, ministro dos Transportes de Sarney.
O texto de Janio de Freitas na Primeira Página da Folha de 13 de maio de 1987 é um primor de clareza, estilo, inventividade e contundência, que o alçam à história:
"Foi fraudulenta e determinada por corrupção a concorrência pública, cujos resultados o governo divulgou ontem à noite, para construção da ferrovia Maranhão-Brasília (ou Norte-Sul): a Folha publicou os 18 vencedores, disfarçadamente, há cinco dias e antes até de serem abertos, pela estatal Valec e pelo Ministério dos Transportes, os envelopes com as propostas concorrentes", escreveu ele.
Dali por diante, seguia com o vigor de reportagem única, seja pelas informações incontestáveis ou pela criatividade de ter antecipado a licitação fraudada na seção "Negócios e Oportunidades".
Duas décadas depois, a ferrovia ainda reclama hoje R$ 2,5 bilhões em investimentos. A licitação viciada foi cancelada, mas a obra seguiu. O traçado inicial previa a construção de 1.550 km de trilhos, cortando Maranhão, Tocantins e Goiás.
Em 2006, Lula incorporou o trecho Açailândia-Belém ao traçado inicialmente projetado. Se concluída, terá 1.980 km de extensão. De metro em metro, um dormente lembrará a letargia política que permitiu a ferrovia enriquecer os que açodaram a sua construção.


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