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PLÍNIO FRAGA
Dormente em obra esplêndida
RIO DE JANEIRO - A história só
se repete como farsa, mas há os farsantes que se repetem na história,
como forma de debochar do dito
marxista. O colunista Janio de Freitas lembrava ontem a coincidência
de o ex-governador do Maranhão
José Reinaldo Tavares ter sido preso na semana em que se completava
20 anos da revelação da fraude da
ferrovia Norte-Sul.
Batizada como aquela que ligaria
o nada ao lugar nenhum, a ferrovia
previa obras de US$ 2,5 bilhões, sob
o guarda-chuva de Tavares, ministro dos Transportes de Sarney.
O texto de Janio de Freitas na
Primeira Página da Folha de 13
de maio de 1987 é um primor de
clareza, estilo, inventividade e contundência, que o alçam à história:
"Foi fraudulenta e determinada
por corrupção a concorrência pública, cujos resultados o governo divulgou ontem à noite, para construção da ferrovia Maranhão-Brasília (ou Norte-Sul): a Folha publicou os 18 vencedores, disfarçadamente, há cinco dias e antes até de
serem abertos, pela estatal Valec e
pelo Ministério dos Transportes, os
envelopes com as propostas concorrentes", escreveu ele.
Dali por diante, seguia com o vigor de reportagem única, seja pelas
informações incontestáveis ou pela
criatividade de ter antecipado a licitação fraudada na seção "Negócios e Oportunidades".
Duas décadas depois, a ferrovia
ainda reclama hoje R$ 2,5 bilhões
em investimentos. A licitação viciada foi cancelada, mas a obra seguiu.
O traçado inicial previa a construção de 1.550 km de trilhos, cortando Maranhão, Tocantins e Goiás.
Em 2006, Lula incorporou o trecho Açailândia-Belém ao traçado
inicialmente projetado. Se concluída, terá 1.980 km de extensão. De
metro em metro, um dormente
lembrará a letargia política que
permitiu a ferrovia enriquecer os
que açodaram a sua construção.
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