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KENNETH MAXWELL
Com a boca
na botija
A CRISE no Parlamento britânico continua. O público se
enraivece cada vez mais.
As histórias dos abusos cometidos por parlamentares que exploraram seus cargos para ganho pessoal envolvem um amplo espectro
de indivíduos, de todos os partidos.
Com base em documentos que vazaram na forma de arquivos de
computador encaminhados ao jornal "Daily Telegraph", as despesas
para as quais parlamentares solicitaram reembolso público variavam
de tolas a sérias.
Membros do Partido Trabalhista, que está no governo, foram
mostrados com a boca na botija.
Uma solicitação típica foi a apresentada por Elliott Morley, ex-ministro do Meio Ambiente, para cobrir despesas com uma hipoteca
que ele havia quitado meses antes.
Os conservadores não eram menos culpados. Um deles revelou ter
usado dinheiro do contribuinte para limpar o fosso em sua casa de
campo, e outro para comprar esterco de cavalo para seus canteiros
de flores. Até mesmo membros do
Sinn Fein, o grupo republicano irlandês, estavam envolvidos. Solicitaram 500 mil para cobrir despesas, a despeito de se recusarem a
assumir suas cadeiras na Câmara
dos Comuns.
Cabeças já começaram a rolar.
Renúncias colocaram carreiras em
risco e arruinaram reputações.
Shahid Malik renunciou como ministro assistente da Justiça depois
que surgiram questões quanto aos
seus arranjos de locação. Andrew
Mackay foi forçado a deixar seu
posto como um dos principais assessores da liderança conservadora devido a pedidos de cobertura de
despesas para uma segunda casa
inexistente.
Mas o estrago já havia sido causado. Michael Martin, presidente
da Câmara dos Comuns, é visto como responsável por bloquear a reforma do sistema de despesas e criticado pela raiva com que reagiu ao
ser contestado em relação ao dinheiro público recebido para cobrir despesas de sua segunda casa.
"Precisamos começar de novo", foi
a reação de Nick Clegg, o líder dos
social-democratas. "Precisamos de
alguém que lidere um processo
completo e radical de reforma".
"Caso Martin tente se manter no
posto, a Câmara dos Comuns enfrentará ainda mais turbulência",
comentou o "Daily Telegraph" em
editorial. "Caso ele um dia tenha
abrigado qualquer respeito pela
instituição que tanto prejudicou,
deveria partir, e já". O presidente
da Câmara dos Comuns pediu desculpas na segunda-feira. Um dia
depois, renunciou . É a primeira
vez em 314 anos que isso acontece.
"As "histórias do cocho" que vocês publicam a cada dia merecem
toda a minha atenção", é como um
leitor do "Daily Telegraph" define
os acontecimentos.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI.
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