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PLÍNIO FRAGA
Dilma e o estresse pós-traumático
RIO DE JANEIRO - Na véspera da
posse do presidente eleito Tancredo Neves -que havia sido internado às pressas num hospital de Brasília-, seu neto e então secretário
particular disse aos jornalistas: "O
diagnóstico é divertículo de Meckel
(uma bolsa que se forma no intestino). O presidente passa bem. A cirurgia foi um êxito, e o Brasil pode
respirar aliviado. O presidente Tancredo Neves deve tomar posse amanhã na Presidência", afirmou Aécio
Neves, 25 anos completados naquela semana de março de 1985.
Tancredo Neves não tinha um divertículo de Meckel, não passava
bem, sua cirurgia não fora um êxito
e ele não tomou posse no dia seguinte. Aécio mentira, assim como
mentiriam os médicos e assessores
de Tancredo pelos próximos 37
dias, até a morte em 21 de abril, em
razão de infecção generalizada.
Uma mentira puxa outra, e versões cada vez mais fantásticas começaram a correr pelo país: Tancredo havia sido envenenado pelos
militares; Tancredo sofrera um
atentado quando dava entrevista
para Glória Maria, tendo a Globo
escondido as imagens do tiro.
Aécio pode hoje alegar que "razões de Estado" obrigaram-no a
mentir. Com o diagnóstico de câncer, a saúde política da pré-candidata Dilma Rousseff dependerá do
"estado da razão do eleitorado".
A ministra assumiu publicamente a doença, já admitiu que perdeu
os cabelos com a quimioterapia,
tenta dar transparência ao seu caso.
Mas sua internação às pressas, após
um voo emergencial em direção a
São Paulo, deixa algo além da certeza de que, 24 anos depois, o melhor
hospital de Brasília continua a ser o
aeroporto.
Dilma terá de convencer o eleitor
de que tem um plano para o país. E
que tem saúde para executar esse
plano -ao menos para 70 milhões
de eleitores (55% do total) com idade para ter vivido o drama da doença de Tancredo. Um raro caso político de estresse pós-traumático.
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