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JOSÉ SARNEY
A roda do mundo
NOVA YORK - Há 44 anos, visitei esta cidade pela primeira vez.
Agora, uma vez mais, estou aqui,
lugar que é uma soma de várias cidades superpostas, interpostas e
miscigenadas, não se sabendo as linhas abstratas que as separam.
Diz-se com razão ser a metrópole
mais próxima dos Estados Unidos,
embora nos Estados Unidos.
Penso na velocidade com que
testemunhei as imensas transformações do meu tempo.
Mais breve do que previsível, um
negro governa os Estados Unidos.
Aqui, ninguém toma conhecimento disso e, como no Brasil, as pessoas passam a contar mais que os
países, cada um encolhendo para
dentro de si e dos seus problemas.
Há sempre uma distância muito
grande entre os que são o governo
e as emoções das pessoas que
votaram para constituí-lo, nesse
processo que é a mais sofisticada
descoberta do homem, no sentido
de criar e organizar o autogoverno,
batizado pelos gregos de democracia.
Faço essa reflexão para dizer da
grande frustração que vejo sobre o
presidente Obama, na contramão
de tudo o que sonharam os seus
adeptos, e lembro-me do que ouvi
de Helmut Schmidt: "Ninguém governa o tempo que governa".
Caiu no colo de Obama a maior
crise econômica já vivida pelos
EUA, de certa forma maior que a de
1929, quando não existia o mundo
globalizado e o efeito dominó.
Ainda não passaram os efeitos da
crise de 2008. E esse medo maior
comanda a perplexidade da superação dos danos deixados: o que vai
acontecer com a Europa e o euro. A
globalização fez com que não haja
solução se não for de todos.
Nada mais sábio do que o ensinamento bíblico de que cada dia tem
a sua agonia. Viver é a soma das
agonias.
Em 1961, eram os negros, hoje, os
muçulmanos, era a Rússia descobrindo a bomba de hidrogênio, hoje é conter uma tecnologia que não
tem mais segredos e evitar que ela
possa se expandir e venha a explodir o mundo. É o caso da Coreia do
Norte e do Irã.
O Brasil assumiu o lugar esperado. Não mais o país do futuro, mas
um "global player", um país do presente, inserido no jogo mundial.
Leio e transcrevo Felipe Gonzalez, quando disse, há alguns dias,
num auditório mexicano, que nós
olhamos os Estados Unidos ainda
pensando no sonho americano, o
"american dream", mas a realidade
é que "Clinton não era tão esperto
como julgávamos, nem Bush é tão
burro quanto achávamos, nem as
raízes de Obama são tão quenianas
quanto os americanos pensavam".
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras
nesta coluna.
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