São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

É grave a acusação feita por João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em janeiro. João Francisco disse ao Ministério Público que soube de um esquema criminoso que achacava empresas de ônibus da cidade e que direcionava recursos para campanhas do PT.
O depoimento faz parte de uma denúncia protocolada na Justiça por uma força-tarefa de procuradores. Um ex-secretário de Transportes e um empresário amigo do prefeito assassinado estão entre as pessoas acusadas de formação de quadrilha com o propósito de financiar atividades políticas do PT. Segundo João Francisco, o presidente do partido, deputado José Dirceu, seria um destinatário da propina recolhida pelo esquema. Dirceu e a cúpula petista negam.
O fato de a denúncia ter partido do próprio irmão do prefeito morto confere força à versão. Não importa, como insinuam petistas, que João Francisco e Celso Daniel não tivessem grande afinidade entre si. Vale mais a impressão de que o irmão do prefeito fala como se fosse alguém bem próximo dos acontecimentos. Uma razia familiar, vale lembrar, esteve na base do maior escândalo da história recente da política brasileira, que culminou no impeachment de Fernando Collor de Mello.
Alguns petistas já declamam a tradicional cantilena da "perseguição política", como se os procuradores fossem correia de transmissão do PSDB. Talvez ainda se agarrem à idéia de que o diferencial do PT seja o seu "patrimônio ético" -imagem que vem sendo desgastada à medida que o partido se apodera de quinhões do poder político no Brasil.
Imputar a razões eleitoreiras a ação do Ministério Público é diversionismo. O que o público que está prestes a decidir seu voto tem o direito de saber é se houve ou não o tal conluio para arrecadar ilegalmente fundos de campanha. É a essa questão que o PT e a Justiça têm de responder.


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