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CRISE NA USP
A crise na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da Universidade de São
Paulo é sintoma de uma crise maior,
da própria USP. Não faz sentido afirmar que a universidade vai bem e que
apenas as ciências humanas vão mal.
A universidade surgiu no Ocidente
no século 11 associada às noções de
"universitas" (o todo, o universo) e
de "studia generalia" (estudos gerais). Soa assim contraditório até
mesmo sugerir que possa haver uma
universidade que não disponha de
um bom centro de humanidades.
Uma instituição dessa natureza não
passaria de um aglomerado de faculdades técnicas. É algo que não se
confunde com o conceito de Universidade, que deve constituir um sistema integrado de transmissão e produção de saber. E o termo "saber"
aqui deve ser compreendido em sua
generalidade. Traduzindo, não pode
haver boa universidade sem bons
cursos de filosofia, história, letras.
Especialmente no século 20, com o
notável sucesso das ciências físicas e
biológicas, as humanas experimentaram dificuldades. É muito mais fácil justificar para a sociedade a concessão de verbas para a pesquisa do
câncer do que para um estudo comparativo das línguas indo-européias,
por exemplo. No caso do Brasil e da
USP especificamente, essa tendência, que é global, foi ainda reforçada
por um contexto de escassez de verbas públicas e de mudanças na estrutura da universidade que favoreceram os centros mais "rentáveis".
O resultado é que a FFLCH foi como que abandonada à própria sorte.
Não consegue da reitoria nem mesmo os recursos para repor os docentes que se aposentam.
O problema é no fundo político. A
carência de verbas não vai ser resolvida da noite para o dia, mas uma movimentação da opinião pública universitária em favor da FFLCH -como agora parece ocorrer- pode levar a reitoria a partilhar mais igualitariamente os recursos de que dispõe.
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