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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula, Danuza, o nacional e o popular
SÃO PAULO - Se você tem filho pequeno, não escapa de festas juninas
de escola, o cheiro enjoado de quentão, pais digitalizando às centenas a
dança das crianças. Não é assunto sério? Salário mínimo? Nada. O tema
nacional é a quadrilha de Lula da
Silva e a esnobada de Danuza Leão.
No ano passado, vi um dos quase
extintos paus-de-bandeira em Bananal, cidade-joinha do vale do Paraíba. O que é pau-de-bandeira? São
aqueles mastros bicolores, como os de
Volpi, em que se pregava a bandeira,
uma tela com a imagem de um dos
santos juninos: Antônio, João, Pedro.
Ainda há paus-de-bandeira nas festas juninas do interior?
Festa junina em cidade grande,
mesmo nordestina, virou a bebedeira
com depravações leves de qualquer
feriado, tipo de Carnaval. Ainda no
ano passado, estive na casinhola de
barro, hoje minimuseu, de mestre Vitalino, arredores de Caruaru (Vitalino, o figureiro que inventou as estatuetinhas de barro nordestinas).
Severino Vitalino contou que uma
turba bêbada do axé da festa de São
João de Caruaru quase demoliu a casinhola do pai dele.
Mas, em escolas de classe média-alta mais ou menos intelectualizada de
São Paulo, as crianças, algumas educadas soltas em quintais de galinhas,
aprendem as festas populares, do Divino, o cancioneiro popular infantil,
"cultura indígena", como devemos
tratar bem os pobres etc. Isso nas escolas mais "à esquerda". Nas de "centro", menos. Nas de classe média normal tem Halloween.
O povo está em outra: axé, rap, sertanejo acanalhado etc. Mas a classe
média antes esquerdista como que
substitui a política frustrada pela injeção de algum nacionalismo popular nas crianças. Mais tarde, as crianças da consciência culpada esquerdista e falida trabalharão em ONGs
do Jardim Ângela. As mais "modernas" farão o ritual de cada geração
de classe média, de, por um período,
cultuar um crioulo musical: Clementina há 40 anos, ontem Racionais,
hoje Tati Quebra-Barraco, que canta
"não gosto de peru pequeno".
Um ritual vazio cultua o povo caipira morto, a esquerda morta gosta
do nacional e popular, o povo se
mundializa na música. Por que cismamos com o caipirismo?
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