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FERNANDO RODRIGUES
Oligofrenia jurídica
BRASÍLIA - Tem sido nefanda para a solidez das instituições no Brasil a
combinação de leis mal redigidas, um Ministério Público intempestivo e
(às vezes) incompetente e uma Justiça propensa ao menor esforço.
Fernando Collor nunca foi condenado na Justiça por seus atos como
presidente. Joaquim Roriz, governador de Brasília, livrou-se recentemente de uma condenação -mesmo havendo dezenas de indícios de que teria cometido irregularidades em sua
campanha eleitoral.
Agora, uma nota escondida nos jornais mostra que o TSE arquivou um
processo contra o prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi.
Os três casos -Collor, Roriz e Taniguchi- têm algo em comum: as denúncias do Ministério Público foram
consideradas irregulares pela Justiça.
Houve erro na apuração e/ou o MP
extrapolou suas atribuições. As provas foram para o lixo. Arquivou-se
tudo. Na prática, os acusados foram
inocentados.
O caso mais próximo, de Taniguchi,
beira o escárnio. Não há só indícios
contra o prefeito do PFL que governa
Curitiba há quase oito anos.
As contas da campanha de 2000 de
Taniguchi, segundo o próprio tesoureiro do prefeito, estavam fraudadas.
A discrepância era da casa dos milhões de reais. Havia recibos originais
à disposição da Justiça. Fornecedores
deram entrevistas gravadas admitindo ter recebido dinheiro por fora.
Um dos problemas: a denúncia partiu do Ministério Público Estadual do
Paraná. Para o TSE, a iniciativa deveria ter sido de um promotor eleitoral. Outra oligofrenia: a Justiça também achou que o prefeito não é responsável por suas contas de campanha. Arquivou-se o caso.
"Agora que foi confirmada a minha inocência, também outras pessoas deixarão de ser prejudicadas",
comemorou o prefeito. É isso aí. Enquanto o MP não se entender com a
Justiça sobre quais são exatamente
suas atribuições, vários políticos vão
celebrar arquivamento de acusação
como se fosse atestado de idoneidade.
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